sábado, 31 de janeiro de 2009

Amigos que me nutrem!


Preciso começar hoje falando sobre algo que tem sido um alimento pra minha ama. Tenho recebido emails, SMS, comentários no blog e no orkut. Tantas as pessoas me alimentando amorosamente com reflexões, recadinhos amorosos, orações e tudo mais. Sou tão imensamente grata a todos vocês. Acho que voces não tem a menor idéia de como é acolhedor ler algo de alguém comentando o que escrevi. Alimenta a minha alma, me sinto acompanhada e querida, e nesses momentos isso é muito!

Quem é meu aluno de yoga já deve ter visto no final da aula, no momento em que faço uma oração de agradecimento, e quando compartilhamos a energia que certamente acumulamos no nosso corpo e na sala com as pessoas que precisarem dessa energia, que de vez em quando eu peço que voces mentalizem que essa energia está alcançando todos "aqueles que não tem amigos".

Desde o primeiro episódio de câncer do meu marido, tenho feito isso com mais frequencia, pois sinto que algo mudou na minha relação com os meus amigos. Não na relação em si, mas na minha percepção da importancia dessas relações. Adoro pessoas, gosto muito dos meus amigos, mas quando se vive algo como isso, eles ganham uma dimensão muito especial. Cada email que recebo, cada telefonema, cada SMS, scrap no orkut ou comentário no blog, me deixam tão animada. Pareço uma criança, sinto que sou querida, embora eu saiba disso, mais nesse momento, eu reconheço e confesso que não basta gostar de mim, eu preciso saber que voces pensam em mim. Confesso minha necessidade!

Meu I Ching de hoje me disse: "Montanha em cima, Trovão embaixo", que fala sobre a nutrição do corpo e da alma. Nutrição em todos os níveis. Me recomendava que eu cuidasse disso que eu reconhecesse e valorizasse tudo que me nutria verdadeiramente.

Algumas vêzes na minha vida, pessoas me disseram que eu passo uma idéia de que não preciso de nada; muitas pessoas já me disseram que sentem dificuldade em se paroximar para me ajudar, mesmo sabendo que eu estou precisando. Bom...vou explicar uma coisa: Cresci acreditando que tinha que me bastar, que tinha que me virar, que não podia ficar esperando ajuda; cresci acreditando que isso me fortalecia, que isso me construia. Bom....muitas águas passadas, terapias e reflexões.... continuo achando que não posso esperar por ajuda, que preciso ser forte e ter capacidade de me organizar sozinha, mas hoje reconheço que quando elas chegam, eu devo aceitá-las, devo abrir meu coração e simplesmente receber...hoje sou muito grata, por cada vez qua alguém me liga, ou me conecta de alguma forma, sou fascinada pela imensidão de formas para encontrar alguém que existem hoje em dia, não existe nenhuma desculpa para não encontrar alguém com tantos recursos...Amo isso!

Então meus queridos amigos que me escrevem, que me ligam, que enviam torpedos, scraps, comentarios no blog....AMO VOCES!!!!! Amo muito e me sinto muito alimentada por isso! Muito obrigada...muito grata! Tenho uma amiga querida (Ana Teresa) que quando me vê ou fala comigo me diz: Vc sabe que estou te acompanhando no meu silêncio, não sabe? E é verdade, eu sinto isso, ela é assim, e como já vivemos muitas dores juntas, sei como ela reage, mas adoro quando ela me diz isso! Uma outra amiga, Inge, que sei que está comigo e Judson na mente o tempo todo, apesar de não ligar muito, eu sinto a presença dela, sei o quanto ela deve sofrer com essa história porque ela gosta muito da gente como casal. Parece que desenvolvemos depois de uns 25 anos de amizade uma comunicação telepática. Tenho a sensação nítida do acompanhamento dela.

Tenho notícias boas: Judson teve alta do hospital, já está na casa de uma prima, estou voltando pra SP domingo e voltaremos pra casa na terça! A evolução cirurgica foi rápida e excelente. Ele iniciará em 15 dias a luta com as células cancerosas, com a quimio, essa é uma batalha que levará 6 mêses...mas, vamos viver a "cada dia o seu bem e o seu mal", e hoje temos a comemorar que ele está fora do Hospital, que em breve voltará para casa e que TEMOS MUITOS AMIGOS!!

Um beijo no coração de cada um de voces!

Ludmila Rohr
P.S Essa foto é o amanhecer no Rio Ganges na cidade Sagrada de Varanasi na Índia. Cada vez que fui nesse lugar, senti um alimento precioso que alimentou meu espírito para enfrentar todas as jornadas da vida. Voltaremos lá em 2010!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Existe choro de amor?


Voltei pra Salvador hoje....peguei um vôo e, em 2,5h estava em casa. Aqui está quente, muito diferente de SP. Meus filhos me esperavam no aeroporto. Chorei muito quando os vi. Eles são muito especiais....são homens legais. Os escolheria como amigos, se não fossem meus filhos, e é sobre o sentimento que eles despertam em mim que quero escrever hoje, porque todas as pessoas que me conhecem sabem o quanto eu simplesmente os adoro.

Sou muito grata aos dois, por terem entrado na minha vida. Quando eles chegaram, senti como nunca antes havia sentido, que precisava ser uma pessoa melhor. A cada ano que passava e o contato deles com o mundo aumentava, eu sentia que precisava ser uma pessoa melhor. Eu queria que eles fossem pessoas legais, honestas consigo mesmos, conscientes dos seus sentimentos e que fossem buscadores. Eu achava, na minha "onipotência materna" , que se eu fosse assim, eles teriam mais chances de ser também, se eles vissem coisas boas em mim, eles buscariam isso para eles também. Queria filhos autônomos, corajosos e independentes. Queria que eles fossem leais aos amigos e justos com todos, mas que fossem fiés aos seus corações. Queria e quero para eles aquilo que eu acho que existe de melhor em um ser humano.

Eles se tornaram pessoas legais, eles são realmente muito legais, mas acho que as minhas altas expectativas são um peso pra eles. Eles dizem que não podem simplesmente ser o que são, eles precisam ser os filhos de Ludmila. Os meus filhos idealizados. Acho que eles têm razão....acho que isso pode ser um peso, e pode ser que um dia eles precisem trabalhar isso em terapia...tudo bem, mas vejo com orgulho que eles conseguem me dar limite. Como eu adoro saber que tenho vida própria, individualidade e privacidade e, eles também gostam disso, eles me dão limites nas suas vidas e eu tento respeitar isso, mais até como uma necessidade minha de ser respeitada do que de respeitá-los. Novamente meu egoísmo!

Voei de SP até Salvador com o meu coração apertado porque estava deixando o meu amor lá. Em alguns momentos do vôo eu chorei, chorei de saudade, chorei por tudo que estamos passando...., e que ainda passaremos. Chorei por que me dou conta de que sou uma pessoa cheia de amor! Chorei por perceber que amo tanto...amo muito....o meu coração vibra muito amor, e de repente percebi que não chorava de tristeza, chorava por saber que amo tanto...que sou amada, mas principalmente por que amo muito. Meu choro era um choro de amor....Será que existe isso?

Não sei se existe esse choro, mas de fato eu sou uma chorona e amo muito. Além de amar minha família, amo meu trabalho, amo acordar, amo meus alunos, clientes, amigos....amo conhecer pessoas novas, amo enormemente a vida!

Então...voltando aos meus filhos...e tentando fechar essa reflexão, o amor que sinto por eles é um termômetro, é como um padrão...funciona mais ou menos assim: sentir um amor desse , que sinto por eles me fez e faz tão bem, que quero sentir isso cada vez mais e por mais e mais pessoas. Quero muito amor na minha vida! Sou grata a eles dois! Eles me ensinaram que amar é uma delícia e que não devemos ser econômicos nisso!

Namastê!

Ludmila Rohr

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O que queremos, Felicidade ou Alegria?


Desde que chegamos em SP que chove! Aqui simplesmente esqueceram que é verão, que estamos em janeiro, que devia estar quentinho...como é possível viver um janeiro tão cinza? Bom...gosto muito de SP, gosto da idéia de poder encontrar aqui tudo que precisamos, tantos lugares pra ir, teatro, restaurantes, lojas que vendem tudo!! Aqui eu encontraria todos os cursos que tenho vontade de fazer, com certeza encontraria livrarias e templos de todas as religiões, mas...pra que tanto? pra que tanta correria e mais ainda, quem disse que precisamos de tantas coisas?


Não sei se voces sabem, mas um dos segredos da felicidade é se ter tudo que se necessita, entretanto a compreensão disso é muito deturpada e, as pessoas começam a correr pra ter cada vez mais, por que a lista das necessidades vai aumentando de forma exponencial a medida que os anos vão passando. Acho que SP retrata isso melhor que qualquer lugar do Brasil. As pessoas aqui precisam de muitas coisas, correm o tempo inteiro...e o pior é que acreditam que a vida é assim. Como se não houvesse outra forma possível de viver.


Um fenômeno interessante acontece quando as pessoas daqui descobrem que sou da Bahia, de Salvador....elas produzem imediatamente um suspiro. Acho que no imaginário dos paulistas...viver em Salvador, é exatamente o contrário de viver em SP. Alguns acham isso fascinante, outros acham isso assustador, ou no mínimo estranho. Talvez eu perceba também algum tipo de julgamento ou desqualificação...como se não trabalhássemos o bastante...ou se vivêssemos de uma ilusão...sei lá...., sem nenhuma pretensão de fazer uma reflexão sociológica ou etnocêntricas, muito menos bairrista, mesmo porque apesar de adorar Salvador, às vêzes me sinto completamente irritada com seu ritmo e com sua obrigação de ser "alegre"....quero apenas refletir sobre necessidades, ou sobre as falsas necessidades que nos fazem correr o tempo todo e que especialmente nesse momento da minha vida me chamam atenção.


Se é verdade que para sermos felizes precisamos ter tudo que precisamos, penso que teremos que rever as nossas necessidades....talvêz reduzindo as necessidades estariamos mais felizes, ou isso seria mais possível. O Mahatma Gandhi questionou durante toda a sua vida, o que realmente era necessário...o que de fato precisamos? Dificilmente chegariamos a viver com tão pouco quanto o Mahatma conseguiu viver. No final da sua vida, ele havia reduzido tão drásticamente suas necessidades que quase não possuia nada além dos seus óculos que o permitiam ler o Bhagavad Gita, seu livro sagrado.


Poderiamos também começar a questionar o que é felicidade, pois talvêz exista uma confusão entre felicidade e alegria. Felicidade é fruto de uma Paz que é sentida dentro, no coração e na mente. Felicidade não está associada a nada especificamente....as pessoas felizes, simplesmente são felizes...elas não são felizes por que conseguiram alguma coisa, ou por que possuem algo...elas são felizes porque simplificaram a vida e o conceito de felicidade. Elas sentem paz.


Sou uma pessoa feliz...embora possua muitas coisas além do necessário, e tenha muitos desejos...sou uma pessoa naturalmente feliz....sinto que sou feliz mesmo quando estou triste, estranho né? mas é verdade! Acho que não sou muito alegre, mas sou feliz! Sou feliz por muitas coisas, ou por nada....e nesse momento, sou feliz porque meu marido foi ao banheiro e fêz cocô! (ele vai me matar quando ler isso!).
Namastê!
Ludmila
P.S. Estou no Taj Mahal nessa foto!!!! Uhhuuuu!!!






terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vento em cima, Trovão embaixo


Esse é o meu I Ching hoje, Vento em cima, Trovão embaixo. Não se assustem.....porque pelo nome parece algo diferente das águas tranquilas de ontem, mas ele fala de "Oportunidades Infinitas"! O Livro das Mutações Chinês me diz que esse é um momento de grandes oportunidades, que muitas coisas planejadas e desejadas poderão acontecer. Diz ainda que eu tenho que ser muito clara em expressar os meus desejos, que muitas vêzes as coisas não acontecem porque não as assumimos como desejo, e às vêzes nem sabemos que as desejamos.

Bom...sempre fui de deixar minhas metas e desejos muito explícitos. Sempre caminhei na direção deles...não traçava muito as metas e caminhos, eu não avaliava tudo que precisava até alcançar meus objetivos...pois eu tinha uma convicção (que beirava a arrogância ou ingenuidade) que me dizia que eu devia contar com a força do universo e com a certeza de que as coisas sempre dão certo. Achava que o caminhar me revelaria as encruzilhadas, e que meu coração, na hora certa, me indicaria a melhor escolha....sempre trabalhei muito...porque eu tinha em vista onde eu queria chegar, mas o meu caminho sempre foi mais intuitivo do que calculado.

Eu tenho uma amiga, Juliana, que diz que a música dos Titãs que fala: "O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraida..." é a minha cara, que as coisas vão dando certo pra mim, e que eu sou sortuda, que mesmo distraida as coisas vão acontecendo.... bom...acho que eu não sou exatamente uma pessoa distraída, sou muito atenta, sou extremamente intuitiva, confio nos meus sentimentos, e sei avaliar o que é de fato importante, daí eu ser seletiva, não coloco energia naquilo que não acho importante, ou que minha intuição diz que não vale a pena....coloco energia naquilo que seleciono, naquilo que sinto que tem a ver com as minhas metas, e mais ainda...aquilo que tem a ver com a minha meta maior...sei cortar, sei abrir mão daquilo que não tem nada a ver com o que quero, não perco muito tempo dando voltas....ser capricorniana me dá uma praticidade e um pragmatismo que gosto muito. Então parece que sou distraída, mas na verdade sou muito seletiva, e penso que sei onde colocar minha energia.

Nesse momento que vivo, ler o I Ching me dizer que é uma época de oportunidade, me leva a fazer contato com a minha meta maior, que é ser uma pessoa de Verdade, alguém que pode estar na vida sem muitos atenuantes e paliativos....quero ver a vida com olhos cada vez mais ampliados...sair de um olhar maniqueísta do Bem e do Mal, me livrar de um olhar cristão de pecado, de culpa, de certo e errado. Quero, quero muito....um olhar cada vez mais ampliado...um olhar de Buda (estou muito longe disso), que vê em 360 graus, que sempre vê a perfeição em tudo, e se ainda não conseguiu isso, é porque não viu tudo ainda....

Esse de fato é o momento de grande oportunidade....enquanto isso acontece....esse processo de ampliação infinita da consciência, vou escrevendo e confesso publicamente o meu desejo de ser escritora....que aqui começou como uma grande brincadeira, a brincadeira de fazer uma diário de adolescente...mas de fato esse é um dos meus desejos...

Bom...Judson está bem...passou uma noite tranquila, já se alimentou....e está muito incomodado com a cama, isso é uma bom sinal!

Namastê!
Ludmila Rohr

P.S. foto com monges no maior templo em forma de estupa do Nepal.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Águas tranquilas....


Essa foi uma noite difícil...mas uma noite que a vida começa a se revelar em seus detalhes. Antes era algo que parecia com a morte....sem dores, sem mêdos, sem incômodos...meio anestesiado, mais para um outro lado....agora, vieram as dores, as sensações de desconforto, os enjôos...e tudo aquilo que nos lembra que nosso corpo é uma fonte de dores e prazeres.

Essa é uma reflexào importante, porque pensar em morte é pensar em ausência de sensações e não em sensações desagradáveis. As pessoas normalmente fogem das sensações desagradáveis por que acham que elas fazem alusão à morte.....sensação, seja ela qual for, é sinônimo de vida...quando, na tentativa de fugir daquilo que é desagradável, fechamos o nosso corpo e a nossa alma para a dor, estaremos fechando o nosso corpo e a nossa alma para a vida!

Então voces podem entender a minha celebração quando Judson começa a sair da anestesia e dos efeitos dos medicamentos que o mantém meio dopado e começa a sentir! que venham todas as sensações...só a partir dessa experiência real, poderemos perceber sua evolução! A realidade é essa,...dor e evolução lenta...

Agora será um dia após o outro...esperar o rio correr no ritmo que tiver que ser....esperar o apetite voltar...esperar o sono voltar....esperar a vida que conhecemos voltar...estou calma....estou tranquila. Muitas pessoas me escrevem perguntando isso. Estou bem, estou exercitando me entregar ao ritmo que as coisas pedem...esperar e me entregar....

De certa forma estou ativa nesse processo.....mentalizo o fígado do meu marido sendo envolvido por muita luz, imagino que cada vez que respiro, muita energia se desloca na sua direção....energia de cura...de força e coragem...Vibro mantras, medito e atraio o que existe de melhor no universo. Ele está melhor...já caminha, já tomou um banho e em breve tomará uma sopinha....! As águas do rio nesse momento correm lentas e cada conquista é festejada...

Temos recebido tantas ligações de amigos, tantos emails, tanto carinho....esse é uma momento de muito encantamento também....Sou grata o tempo todo...sinto a energia amorosa que conquistamos dos nossos amigos, o quanto que cada um deles quer que isso passe...me sinto amada e acolhida...

Nesse momento o que de melhor pode acontecer é que as águas desse rio que nos leva, continuem tranquilas...limpas...e claras....e é nesses águas que seguimos boiando...amparados pelos Deuses e pela Mãe Ganga....

continuem vibrando!

Namastê!
Ludmila Rohr

P.S. Foto das águas límpidas e tranquilas do Rio Ganges, rio sagrado da Índia, em sua nascente...nas montanhas...

sábado, 24 de janeiro de 2009

MEU EGOÍSMO...MAS, MUITO OBRIGADO!


Hoje foi (está sendo) um dia longo....hoje foi o dia da cirurgia de retirada do tumor que se desenvolveu no fígado do meu marido....ontem dormimos (tentamos) em silencio...quietos....nunca vivi algo igual na minha vida..... Judson com mêdo. Nessa relação, eu sou a emoção, eu sou o mêdo, a coragem, a excitação, a tristeza, a alegria...eu sou as turbulencias, as cores, os cheiros.....Judson é a razão...ele estrutura, ele pensa...., mas hoje e nesses dias, ele está com mêdo. Ele chora por estar nos causando dor, ele sente por que está fazendo os filhos sofrerem....ele é só emoção! Ele me abraça, e diz que me ama, ele me ama...ele sente muitas coisas e diz que é bom que eu esteja do lado dele.....tudo se inverteu!

Eu cuido dele, eu dou segurança, eu explico, eu compreendo...e ele sente, ele expressa o que sente...e choramos juntos...choramos muito juntos....Eu sou uma chorona, isso é natural, mas agora eu choro junto com ele...isso é novo!

Essa é uma dança nova...estou estranha, tudo é novo pra mim...Estou em um lugar estranho de tanto sofrimento que me sinto forte...me sinto organizada e forte.

Quando ele é levado do quarto para o Centro Cirúrgico algo se rompe dentro de mim....uma dor...uma dor estranha. Me dou conta de que tem 25 anos que Judson toma conta de mim, me dou conta que é a primeira vêz que estou sem ele, nesse tempo todo que nos conhecemos. Ele estará anestesiado...ele não estará me olhando, me amando e cuidando de mim...estou sem ele!

Uma vêz, sofri um acidente de carro e eu liguei pra Judson...ele estava nos EUA! Ele pensou em vir me acudir, ele tinha acabado de chegar nos EUA e pensou em vir me ajudar, me ver! Ele é assim! Esse é o meu marido! e agora ele estará anestesiado...eu não o terei pensando e olhando pra mim....por muitas e muitas horas....sou egoísta e mimada, sou mal acostumada a ser amada por um homem assim!

Pra todos que estão acompanhando esse momento, a cirurgia foi um sucesso, o tumor era único mesmo, foi retirado com margem boa de segurança, ele perdeu muito pouco sangue....e em aproximadamente 3h descerá para o quarto. Eu estou feliz, com sono, exausta....meio grogue....mas estou completamente chocada com o meu egoísmo. Sou egoísta, sou muito, muito egoísta. Quero Judson de volta na minha vida....não sei como seria minha vida sem ele.

Minha sogra acha que Deus nos dá mais do que merecemos, e diz muito emocionada que acha que não merece essa graça, que se sente pequena. Eu penso diferente...acho a vida justa, as dores e as graças são para serem vividas. Assim como não questiono o porquê desses eventos dolorosos na minha vida e os aceito, eu aceito também as graças e não as questiono. Então nesse momento, sinto que mereço essa boa notícia....

Obrigado a todos os Deuses...que me ampararam no tempo interminável da cirurgia, obrigado a todos os seres de Luz que iluminaram as mãos dos médicos que cuidaram de Judson...Obrigado a todos no Mahtama e em toda parte que hoje criaram um círculo de vibração de cura para ele.

Obrigado!
Namastê!

Ludmila Rohr

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Minha caverna de dor e quietude


Estamos em SP.....está muito frio....15º! Íncrível que ninguém tenha avisado a essa terra que estamos em janeiro! É verão! Devia estar quentinho.....e com céu azul e com um sol sobre as nossas cabeças...devia, mas não está. Está frio.

Quando saimos ontem do consultório do médico que irá operar Judson, sentimos tanto frio, queriamos beber um vinho e ficar bem agarradinhos...bem pertinhos um do outro....a minha necessidade era de me fundir com ele, me de tornar uma só pessoa, que ele pudesse entrar em mim e eu nele. Sentia como se não pudesse me separar dele, que minha alma precisava ficar grudadinha na dele.

Sou uma espiritualista praticante, medito e sempre busco significados pras coisas, sempre tento me entregar ao sagrado que existe na vida....já vivi algumas coisas difíceis e dolorosas que me deixaram muito assustada mas que testaram minha força, algumas dessas situações são inesquecíveis como um naufrágio no Rio Amazonas que pensei que ía morrer, quando Caio despencou de um poço de elevador, quando minha casa foi inundada por uma enchente e perdemos quase tudo que tínhamos, quando sofri um aborto, quando Lucas foi operado, quando soubemos do primeiro câncer de Judson...fora a situação que nem lembro, mas que sei que vivi e que deve ter deixado marcas na minha alma, meu pai foi preso pela ditadura militar quando eu era um bebê de 3 mêses....bom...sempre que olho pra essas história e outras da minha vida....sinto que elas me construiram, que sou forte por causa delas....nunca sinto que fui vítima de nada...conto essas histórias e a forma como as atravessei com um certo orgulho, mas hoje....

....hoje estou triste....estou muito triste.....tenho chorado muito....nesse momento estou no lobby do hotel, escrevendo e chorando....não questiono as coisas, nunca passa pela minha cabeça coisas do tipo: Por quê eu? Por quê com ele? Definitivamente não tenho afinidades com o papel da vítima. Sinto muita dor, acho que nesse momento todo o meu corpo doi, minha alma doi, mas não consigo me sentir vítima de nada....acho que sairemos dessa de alguma forma e que serei uma pessoa melhor, terei mais histórias pra contar e poderei ajudar mais pessoas ainda com o meu trabalho e com a minha vida.

Tenho duas sensações muito presentes e constantes nesse momento: dor e quietude. Tudo doi, mas ao mesmo tempo me sinto quieta, num lugar tranquilo da minha alma, num lugar muito profundo da minha alma. Em alguns momentos sinto como se estivesse numa caverna profunda, em outros, parece que meu tempo e ritmo estão diferentes, como se eu estivesse funcionando em outra dimensão. Esse é um lugar de muita solidão, mas é o lugar que sinto uma união profunda com o Sagrado.

Essa minha minha caverna é muito conhecida, já tive muito mêdo dela, mas depois de tanto visitá-la, depois de tantos mergulhos, em que, em uns, reconheço que fui levada pela vida, quando percebi já estava lá, e, em outros a busquei conscientemente. Agora não tenho mais mêdo algum...tenho paz e me entrego...é um lugar que sinto que posso estar sem esforço algum...só sentindo......nesse momento sinto dor e quietude...e choro...choro muito..., choro sem reservas, tento lavar a minha alma e deixar a a água levar o que tiver que levar.

Bom.....conto com vibrações de todos...amanhã....

Namastê!
Ludmila Rohr

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Karma? ....Méritos!


Esse é um momento difícil....arrumar as malas...sair de casa....sem saber quando voltaremos...o que nos espera...o telefone não para, são muitos amigos queridos desejando o melhor dos seus corações para nós nesse momento.

Fiquei muito encantada com a quantidade de carinho que recebi dos amigos no ano passado no episódio do câncer, e agora não tem sido diferente. Recebo tantos emails, recebo tanto carinho, tantas demostrações de amor, que chegam de todas as formas. Ontem uma amiga querida, Ana Teresa, veio falar comigo sobre o quanto ela fica silenciosa nesses momentos, mas que está com a gente no coração o tempo todo. Sei disso...sinto esse amor....e nem posso citar nomes, porque certamente seria injusta com alguém.

Fiquei sabendo que dia 24 (dia da cirurgia de Judson) é o aniversário do Lama Padma Samten e que haverá um Tsog lá em Viamão, e que o nome de Judson será citado nas orações....o que mais posso querer....definitivamente só recebo coisas boas, carinho, ternura, expressões de fé, pessoas que se comprometem a orar, rezar, vibrar por Judson vem falar comigo. Isso é muito lindo na Bahia, pois o nome de Judson está nesse momento em grupos de oração católicos, espíritas, budistas, protestantes e em terreiros de umbanda e candomblé. Acho verdadeiramente lindo e poderoso, pois assim somos...somos multi, somos pluri...somos tudo!

Tenho um filho ateu...ele não acredita em Deus, ele é do bem, não conheço alguém mais pacífico que ele...disse pra ele outro dia que a minha visão tântrica da vida diz: "O que existe aqui, existe lá; se não existe aqui, não existe em lugar algum", quis dizer, que basta que ele seja um homem bom e justo aqui....basta que ele tenha amor no coração aqui...esse é o lugar pra se amar, não me interessa em que voce acredita, me interessa se o coração é bom e aberto! Nunca dei nenhuma formação religiosa pra meus filhos, mas sempre dei muita formação espiritual, sobre a bondade e a equanimidade...acho que eles são muito espiritualizados, talvez eles nem saibam disso!

O Lama Padma Samtem uma vêz me ensinou sobre méritos, as pessoas fazia perguntas sobre Karma, queriam muito saber como "pagar" o Karma, ele disse para uma mulher aflita: - Não pague, dê calote! Abra o seu coração agora, transforme exatamente o que voce sabe que precisa ser transformado e livre-se disso!, e começou a falar sobre méritos...adorei ouví-lo falar sobre méritos....tenho muito Karma, mas definitivamente tenho muitos méritos, me sinto assim, sinto que consigo ver em cada situação um mérito, um apredizado, uma benção, um presente da vida. Me sinto o tempo todo sempre presenteada com oportunidades incríveis de crescimento....sinto meu coração sempre transbordando de energia, assim como o meu corpo...isso é MÉRITO!

Posso sentir a beleza da vida, tenho olhos para isso; posso receber tanto dos meus amigos, posso pedir vibrações e consigo aglutinar pessoas em torno do meu pedido, isso é MÉRITO!!!
O Padma Samten é tão importante na minha vida, talvez ele nem saiba disso, mas tive com ele algumas iniciações mais mágicas e profundas que já vivi na vida, iniciações espontaneas que só quem já viveu sabe. Quando um sábio fala algo, e aquilo entra na alma de uma forma tão significativa que nunca mais voce conseguirá esquecer...as lágrimas veem aos olhos...e o coração ganha uma dimensão infinita...Pude viver isso ao lado do Lama! e sou muito grata!

Assim como não posso deixar de pensar que seu aniversário será no dia da cirurgia de Judson e que isso é mais um encontro dos nossos caminhos...parabéns Lama e obrigado por ter entrado na minha vida!

Coloquei uma foto lá na Índia em Haridwar, atrás (em cima, embaixo em todos os lados) de mim está a figura imensa de Shiva, o Deus da destruição, da morte e renascimento....que nos ensina que é preciso morrer para renascer, que é preciso deixar o velho que não serve mais , ir embora prara que o novo venha...Shiva é um Deus poderoso e muito amado na Índia...e por mim!...O aspecto masculino que ceifa e nos fala do que realmente é importante, que nos lembra do que carregarmos tantas coisas...o que precisamos é somente de uma mente lúcida e um coração amoroso!

Bom...estou indo meus queridos....acreditando que sempre acontece o que é pra acontecer, e sentindo lá no fundo do meu coração que agora o que vai acontecer é que meu marido querido, grande amigo de muitas vidas, sairá dessa.....ainda teremos muito o que celebrar!

Shanti....Om....Namastê!

Ludmila Rohr


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

contradições?


Viajarei pra SP nessa quinta, meu marido será operado no sábado (24), estamos organizando vibrações e orações em diversos lugares, mas principalmente no Espaço Mahatma Gandhi. Acredito que quando pessoas se reunem e colocam suas mentes e corações voltados para um objetivo, elas conseguem gerar uma força poderosa.

Nesse mesmo final de semana, as bandas de Caio e Lucas (meus filhos) irão tocar. As duas bandas irão tocar num mesmo show! isso é inédito. Os dois desde que montaram bandas, nunca se encontram, moraram fora do Brasil por um ano, cada um no seu tempo, e isso os desencontrava, agora estão juntos, cada um tem sua banda, e pela primeira vez vão tocar as duas bandas no mesmo show! Eles estão muito excitados, muito animados! Eles estavam contando com a nossa presença nesse show, por que diziam que dessa vez seria em um lugar legal, que nós poderíamos ir numa boa!

Meu marido vai ser operado de um câncer e meus filhos se apresentarão com suas bandas. O que isso tem a ver? É exatamente sobre essa contradiçao que quero falar hoje!

A nossa alma é tão incrível que tem a possibilidade de conviver com emoções o"aparentemente" opostas. Podemos sentir alegria e mêdo ao mesmo tempo, podemos estar tristes e sentir prazer o mesmo tempo, podemos sentir dor e tranquilidade ao mesmo tempo.

Fico olhando pros meninos (são homens!), e vendo que eles estão completamente excitados com o show, ensaios toda hora...não falam de outra coisa....mas estão convivendo com algo que é doloroso. O pai vai estar operado em SP enquanto eles estiverem cantando. O pai não estará no show, com a cara de horror de sempre (ele acha o som do Death Metal horrível, bom...eu também!), nós não estaremos aqui...nesse momento que para eles tem grande significado.

Às vêzes a excitação em casa fica excessiva pra mim, às vêzes chega a me irritar por que estou muito recolhida, quieta, mas acho que eles estão certos...acho lindo essa convivencia de todas as faces da vida, que ocorrem ao mesmo tempo, que parecem contraditórias, mas não são. Isso é a própria complementariedade da vida! Isso é a riqueza da nossa alma, que não precisa ficar presa a uma só vibração, pode circular por outras nuances, mesmo em um momento de dor.

Entendo que esse é um momento de muita alegria para eles, e por que não viver isso?! Isso não diminue o amor e a preocupação com o pai, mas por que eles deveria estar contritos e com caras de tristes? Me dou conta de como isso aconteceu várias vêzes na minha vida, de esperarem que eu estivesse com a aparência abatida triste por algo que estivesse vivendo, mas apesar da minha tristeza eu conseguia ver outras coisas na vida, eu conseguia me alegrar por outras coisas e algumas pessoas não entendiam. Mesmo na dor, não consigo me sentir uma "pessoa triste", definitivamente não sou um pessoa triste!

Posso estar muito triste preocupada com o meu marido, mas posso estar alegre com o que acontece com meus filhos, ou posso ficar excitada por que o dia está lindo, ou por que vou beber um vinho gostoso à noite.....posso estar triste e alegre.....entretanto a aparente contradição que mais confunde as pessoas é Coragem/Mêdo. É muito comum achar que esses sentimentos são opostos, mas não são. O oposto da coragem é a covardia e não o mêdo. Então posso tranquilamente estar com mêdo e coragem ao mesmo tempo! Aliás...assim eu levei minha vida....tive muitos mêdos, muitos mesmos, mas me considero alguém com uma coragem imensa...e a minha coragem nunca me deixava paralisar diante dos mêdos, ela me fez e faz com que eu me mova, com que eu saia do lugar e caminhe na direção do que desejo...

Bom...sou corajosa, desejo imensamente que meus filhos sejam e principalmente que meu marido seja nesse momento. Que apesar do mêdo, a coragem prevaleça!

Moro em Salvador e é verão, faz sol....vou pra praia! vou mergulhar na praia do Porto! Vou lavar minha alma....vou sentir um prazer enorme nisso! Vou me alegrar muito em viver numa cidade como essa, de morar em frente a praia....vou sentir muita alegria nesse momento de trsiteza!
Eu mereço!

Ludmila Rohr
P.S. Agradeço a todas as pessoas que estão fazendo comentários...sinto que estou acompanhada...amo muito isso! bjos

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

É VERDADE, QUERO TUDO!

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Hoje quero começar falando sobre uma amiga e, sobre nossa relação, talvez vocês compreendam o porquê disso no final dessa reflexão, talvez eu também venha a compreender. Somos muito diferentes, absolutamente diferentes. Eu não consigo, por exemplo, comprar uma roupa e não usá-la imediatamente, ela guarda coisas para um dia usar, eu comumente saio da loja vestindo ou calçando o que comprei; as coisas que não uso, não tem a menor importancia pra mim, e ela perde (eu acho) muito tempo arrumando coisas que não tem utilidade, por que um dia poderão vir a ter. Eu acho que esse é o momento que existe, ela espera o momento chegar. Bom...mas somos amigas, temos confiança e afeto uma pela outra. Ela questiona a forma que eu vivo, e eu questiono a dela, mas somos amigas e nos apoiamos.

Bom..tenho uma lembrança de uma sensação de quando eu era uma criança. Meu pai ficou orfão de pai quando tinha 5 anos, e viveu a vida achando que poderia morrer cedo e deixar os filhos crianças, o que ele não queria. Como ele achava que poderia morrer a qualquer momento, ele era uma pessoa que vivia intensamente cada momento, como se fosse o último. Ele não tinha dinheiro, mas quando sobrava algum, ele levava os flhos pra tomar sorvete. Ele trabalhava muito e não tinha muito tempo, mas quando sobrava algum tempo, ele fazia o que gostava. Ele não passava muito tempo pensando no amanhã, porque esse era o momento!

 Então eu cresci com uma sensação de que eu não devia desperdiçar tempo da minha vida. Que eu não podia jogar fora nenhuma oportunidade que a vida me desse de experiementar uma coisa nova, conhecer alguém ou viver algo diferente. Desenvolvi desde cedo uma sensação de que é um desperdicio imperdoavel jogar qualquer segundo da vida fora. Bom...preciso esclarecer que adoro ficar sem fazer nada também, adoro ficar com os meus pensamentos, adoro ficar quieta, tenho um ritmo de vida bem tranquilo, o que não suporto é a idéia de ADIAR, de procrastinar, de deixar de fazer algo que pode ser feito hoje, pra amanhã. É sobre isso que estou falando!

O que me assusta é pensar que quis muito algo, quis muito experiementar alguma coisa e não fiz por conta da fantasia de que posso deixar pra amanhã! Tenho um desejo muito grande de no final da minha vida (que nunca sabemos quando será), eu tenha uma boa sensação de ter feito tudo ou quase tudo que desejei, e que posso até não ter conseguido, mas que tentei fazer; quero ter a sensação de que não joguei tempo fora, que reverenciei a vida em cada segundo, de que honrei a energia vital que existe em mim....

Bom...meu pai me ensinou isso (acho que ele nem sabe disso)....a simplificar as coisas e simplesmente viver! Essa minha forma às vêzes me dá a sensação que tenho um ritmo diferente, que tenho uma ânsia pela vida, e uma vez uma amigo me disse: - Poxa Ludmila, Voce quer tudo! e eu respondi: Quero! quero tudo que eu puder! Qual o problema? Nem sempre consigo, é claro, e pra isso tive que aprender a lidar com a frustração, mas de fato isso é uma verdade! Quero tudo, quero muito! e não é de posses que falo, não tenho ansiedades de possuir muitas coisas, mas tenho uma vontade enorme de viver muitas coisas!

Então eu e minha amiga temos uma diferença grande em relação ao tempo. Acho que ela, assim como eu, tem muito desejo de viver; a diferença é que minha vida é agora, e acho que não tenho tempo a perder!

Namastê!

Ludmila Rohr


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Só....mas nunca sozinha!


Bom....hoje foi um dia difícil...dei minha primeira aula de yoga depois que soube desse novo diagnóstico do meu marido. Então tive que compartilhar com meus alunos queridos esse meu momento. Em 2008, eles foram uma companhia constante, eles foram amorosos, solidários...choraram comigo quando soubemos do câncer, e se alegraram quando soubemos que o tumor havia desaparecido. Hoje tive que começar a contar que teremos que passar por isso outra vez.

Uma vêz ouvi um ditado (acho que chinês): "Quanto maiores forem os seus segredos, maior é a sua prisão", gostei tanto disso, teve tanto significado pra mim....Sinto que quando abro meu coração e exponho o que sinto, ou que estou passando, encontro apoio, ressonância...recebo muito....e mais ainda, me sinto livre!

Bom...sou professora de yoga, e desde sempre fujo de um rótulo muito comum, no imaginário de algumas pessoas, de que ser prof de yoga significa ser Zen (do senso comum), ou seja , alguém que está acima do bem e do mal. É muito comum, a associação dos professores de yoga com alguém que não se abala, professores de yoga cuidam do corpo e do espírito, as emoções ficam para os não praticantes. Uma vêz ouvi de alguém, que para um professor de yoga eu era muito alegre! uau! Fiquei pensando o que essa pessoa acharia de mim como prof de yoga, se me visse com raiva ou com mêdo?

Sou professora de yoga, e tento ensinar que devemos estar inteiros, e quanto mais livres dos condicionamentos melhor! Ser uma praticante do yoga me fez compreender que posso me desidentificar dos fatos, das sensações e das emoções. Eu não sou a dor, eu tenho uma dor. Eu não sou o mêdo, mas eu estou sentindo isso.

Quando penso dessa forma, não há espaço para o desespero, me mantenho livre, eu estou aqui...essa dor existe, mas EU estou aqui. Essa compreensão eu devo ao yoga. A prática constante, não só com o corpo, mas também com a alma, me permitem hoje sentir tudo que minha alma produz, ou que a vida me coloca diante, mas posso contemplar, apesar da dor, posso observar, perceber algo maior naquilo, algo que me faz crescer...que me ajuda a ser uma pessoa melhor.

É verdade que terei que falar com todos os meus alunos, clientes, amigos...e ver os meus sentimentos refeltidos no rosto de cada um, terei que ver expressões de frustração e de dor de cada um deles, por que sei que ninguém quer me ver passar por isso outra vêz, e eu muito menos. Mas....terei que viver todas as dores e prazeres que me cabem nesse momento.

Não me sinto só....a minha sensação é que estou completamente acompanhada, e isso me dá muito conforto, mas sei também que posso ficar só, que tenho o direito de ficar só, que tenho essa liberdade, que posso me permitir esses momentos que me ajudam a escutar meu mestre interno, escutar meu coração....nunca sozinha, mas só! Isso só é possível quando estou só, em contato íntimo com um lugar de muito silêncio e paz que sempre existe dentro de mim!

Namastê!

Ludmila

domingo, 18 de janeiro de 2009

A minha fé...e a vida?


Bom.....estamos diante de uma verdade incontestável, e que eu adoraria fugir mas que é impossível. Meu marido está novamente pra enfrentar um câncer, fizemos isso em 2008, e agora teremos que fazer de novo.

A minha experiência com o câncer do ano passado (só posso falar da minha experiência), me ensinou muitas coisas....atravessei alguns sentimentos, oscilei muitas vêzes entre a a raiva e a autocomiseração, experimentei minha espiritualidade como nunca, mas também tive mêdo....mas é verdade que tive muita fé...muita certeza....e muita tranquilidade, apesar da dor constante.

Normalmente sou uma pessoa que passa uma idéia de auto-suficiencia, de confiança e de assertividade, e de fato me sinto uma pessoa assim. Só depois de anos de terapia que eu comecei a poder mostrar algum tipo de fragilidade (que existem, é claro!) em público e me permitir ser ajudada. Entretanto, sempre fui muito chorona, mas eu chorava de alegria, chorava movida por emoções sublimes e de beleza, mas naquele periodo eu chorava de dor, de mêdo, os amigos íntimos me viram chorando, os meus alunos de yoga me viram chorando, pessoas que nem me conheciam e que foram a alguma palestra minha, me viram chorando....meu choro lavava a minha alma, meu choro me deixava leve, meu choro me humanizava....não tinha problemas pra chorar minha dor...mas o incrível nisso tudo é que eu convivia o tempo todo com a minha fé, e comecei a perceber que ela era diferente da fé da maioria das pessoas. Vou explicar!

A minha fé me tranquilizava porque eu acreditava que as coisas sempre acontecem como tem que acontecer, e que nada estava errado. Que eu precisava apenas me entregar, fazer a minha parte e que o resto nos viria como acréscimo. Sentia sinceramente que a vida não nos pertencia, que estávamos usufruindo dela, mas que na hora que tivessemos que devolvê-la assim teria que ser feito!

Quando as pessoas me diziam, - seu marido é um homem bom, ele vai sair dessa!, eu pensava: só os "bons" se salvam? Me diziam: Estamos pedindo. Jesus vai curá-lo!, eu pensava:Por que Jesus vai curá-lo e não vai curar Chico e Zé ali da esquina, e que também tem amigos orando, rezando...enfim....porque me sentir especial? Porque pensar que a benção seria a cura?

Bom...eu achava e ainda acho, mas vou refletir muito mais sobre isso, que a benção não é exatamente a cura, embora seja isso que busquemos, mas a benção seria descobrir o valor da vida! A benção seria poder depois de uma doença como essa, agradecer a vida a cada segundo. Seria nos tornarmos pessoas melhores, mais amorosas, mais verdadeiras, mais alegres, menos impacientes, menos intolerante, pessoas que valorizam cada segundo, cada minuto e que graças a uma experiencia como essa, descobriram que o mais importante de tudo é AMAR!

Então minha fé me diz que isso é possível. É possível agora! Independente de cura ou não. É possível viver cada instante da vida com encantamento e amor, por que essa é a vida que temos, é o agora. Não sei se tenho mais tempo de vida que meu marido....Quem diria com convicção que tem mais tempo de vida que ele? E o que adianta viver muito e cheio de rancor, aprisionado em tantos preconceitos, em tantos impedimentos?

Tenho fé que esse momento que atravessaremos nos transformará em pessoas melhores, em pessoas mais amorosas e que valorizam a vida em todas as suas formas e expressões! E viver um dia assim, vale mais que uma vida longa com medo e sem amor!


Namastê

Ludmila Rohr
P.s. foto em Varanasi (Índia) fazendo uma oferenda no Rio Ganges

sábado, 17 de janeiro de 2009

Medo de quê?


Uma vez, eu estava na Índia em um templo, onde havia o costume dos visitantes fazerem pedidos. É um templo muçulmano, onde um homem santo havia sido enterrado. Dizem os fiés e seguidores desse santo, que ele é muito poderoso, que ele realmente atende aos nossos pedidos.

Não tenho o hábito de fazer pedidos, na verdade nem gosto de fazê-los. Na Índia é comum dizer que "Quandos os Deuses querem se vingar, eles atendem os nossos pedidos". Acho que isso se deve ao fato de que não sabemos desejar, ou que desejamos aquilo que de fato não seria o melhor pra o nosso crescimento. Muitas vêzes desejamos aquilo que nos daria satisfação, mas nem sempre isso é representa o melhor pra gente.....bom, cabe mil reflexões aqui....

Como era a minha segunda vêz nesse templo na Índia e no ano anterior havia desejado voltar ali com os meus filhos e, eu naquele ano estava ali com os meus filhos!!!, resolvi respeitar esse santo e cuidar muito bem do que eu iria desejar a partir daquele momento....

Pensei, pensei muito....achei inclusive que não devia desejar nada...que o universo sabia exatamente o que seria bom pra mim e que seria desnecessário fazer pedidos.....quando estava pra sair do templo, escuto uma voz que me sopra no meu ouvido qual deveria ser o meu desejo....
Ela dizia: "deseje nunca ter medo de você mesma!

Uau! não pude deixar de escutar isso! E esse foi o meu desejo naquele ano, naquele templo mulçumano na Índia. Eu pedi para não ter medo de mim mesma! Eu entendi que eu podia até ter mêdo de coisas fora de mim, mas que não queria a apertir daquele momento ter mêdo de nada que viesse de dentro de mim!

Quero olhar com verdade para os meus sentimentos, desejos, pulsões, pensamentos, sensações...quero ententer e conhecer tudo que brota em mim, mesmo que elas pareçam feias, desagradaveis ou diferentes do que os outros esperam de mim, mesmo assim eu quero aceitá-las porque quero ser cada vez mais consciente e em paz comigo mesma!

Bom....tenho tentado.....

Namastê

Ludmila Rohr
p.S. foto tirada no encantador Taj Mahal

UMA DESCOBERTA


Sempre pedi aos Deuses para ser uma pessoa forte. Sempre pedi aos Deuses para não ser uma pessoa bege. Chamo "pessoa bege", aquela que não deixa marcas, que não interfere, que se adequa a tudo. Queria ser alguém que interferisse, que fosse lembrada, que afetasse as pessoas e os ambientes por onde passasse. Queria ter a sensação de que gosto de mim mesma, aquela sensação que me garantiria a sensação de que eu não gostaria de ser outro alguém, mas que eu estou feliz com quem eu sou!

Nasci assim....meu pai me chamou de Ludmila, e dizia que esse nome significava "Amada por todos", nasci em meio ao golpe militar no Brasil e meu pai era um líder comunista, então já cresci meio "vermelha", bem longe do bege.

Nasci em Salvador-BA, mas filhas de uma amazonense com um paraense, que são primos. Bom me sentia diferente das minhas colegas de escola, mas adorava isso. As pessoas na época se chocavam quando sabiam que meus pais eram primos, e eu reforçava dizendo "são primos carnais!", como se chama primo de 1º grau aqui na Bahia. Eu gostava do impacto que isso causava, gostava de já ter nascido com uma história diferente.

Bom...meus pais eram pobres, não tinhamos nada sobrando, não tinhamos espaço sobrando, moravamos em um apartamento bem pequeno e que foi ficando menor a medida que a família se completou com 4 filhos. Minha mãe era uma professora e trabalhava em 3 empregos, e meu pai trabalhava no Pólo petroquímico, quase não os víamos, exceto nos fins de semana.

Voltarei sempre a fazer referências à minha infância e adolescência, mas quero falar dessa mulher que sou hoje, e das experiências que tenho vivido hoje aos 45 anos de idade.

Acabei de descobrir que meu marido está com uma metástase no fígado de um câncer que ele tratou no ano passado. Uma descoberta como essa mobiliza tudo que tenho em mim, tudo que vivi, as minhas crenças, os meus mêdos e a minha relação com a vida.

Quando descobrimos o primeiro câncer, sofri, tive mêdo, chorei muito, imaginei muitos quadros possíveis, mas no fundo, em um lugar muito profundo de mim mesma, encontrava um lago de águas serenas, um lugar que me dava muita paz e serenidade.

Nessas situações é comum vc ouvir muitas coisas das pessoas, e um dia eu ouvi: "A gente nunca está preparado pra isso, né?". Aquilo me afetou profundamente, porque se eu dissesse que não estava preparada, estaria jogando fora anos e anos de uma vida vivida com tanta intensidade e verdade. Lembrei que pratico meditação e yoga há 29 anos, lembrei de tantas coisas que acredito e que sempre me fizeram ser a pessoa forte que sou. Como agora poderia dizer que não estou preparada pra lidar com isso? O câncer nada mais é que estar diante da vida e morte, e não é assim que acredito que estamos diariamente?

Outra coisa que me causava muito desconforto eram as demonstrações de fé do tipo: "Tudo vai dar certo!", "Tenha fé que tudo dará certo!". Bom, eu pensava...por que é assim que acredito: Tudo sempre dá certo! mesmo que não aconteça como gostariamos, não significa que deu errado. O Dharma se faz, e o que tiver de ser, será! e o que acontecer, está certo!

Na época do 1º câncer o tratamento foi muito doloroso, pude experimentar o que é ver alguém sofrendo juntinho de mim, sem que eu pudesse fazer muita coisa....ele venceu...atravessou essa primeira etapa, foi dado como curado....brindamos, celebramos....viajamos pra Europa para comemorar...brindamos à vida em Veneza, em Paris....merecíamos.....e nos permitimos!

Mas agora, 3 mêses depois descobrimos que escondidinho no fígado, crescia uma célula desgarrada...e teremos que enfrentar esse desafio outra vez! e assim será! Trabalharei com minha fé, que é uma fé que me diz que tudo está certo, que devemos estar abertos ao todo, que ao desejarmos a vida, não podemos excluir a morte, que ao desejarmos o prazer, não conseguiremos excluir a dor.

Sempre pedi aos Deuses para ter uma vida inteira, que os meus véus da ignorância fossem tirados um a um; continuo querendo isso e continuo querendo aprender o máximo com todas as histórias da minha vida. Vamos ver o que essa agora, quer me ensinar!

Namastê

Ludmila Rohr

P.S. foto em Templo Budista no Nepa - Roda de Orações