terça-feira, 31 de março de 2009

O Amor contagia!


No meu último post falei sobre a capacidade de sonhar, ou melhor, sobre a necessidade de sonhar! Sonhar é preciso. Assim como amar é preciso. Como viver ser sonhos e sem amor? Acho que a vida seria apenas suportável, dura demais, talvez nos sentíssimos áridos como num deserto, talvez, sem sonhos e sem amor, nos sentíssemos amargos, e não acreditássemos na vida, no poder transformador da vida. E na pior das hipóteses, sem sonhos e sem amor, a vida seria um fardo.

Acho então que Sonhar e Amar são as necessidades básicas da nossa alma, assim como respirar, se alimentar...para o nosso corpo. Nossa alma fenece, perde o brilho, murcha se não sonhamos e amamos. Podemos nos sentir meio vivos se não sonhamos e amamos.

O problema é que muitas pessoas confundem a necessidade básica de "amar", com a necessidade de "ser amado", e esperam com um coração fechado que alguém descubra a sua necessidade e lhes devotem algum amor, para só então, possam vir a amar. Essas pessoas esperam e aumentam suas dores com doses grandes de frustrações e de confirmações para a sua teoria. Eu sou assim, porque não sou amado.

No Backti Yoga aprendemos a amar. Esse é um caminho dentro do yoga que fala que só é possível caminharmos com a prática do amor. O amor pode e deve ser devocional. Aquele amor que simplesmente ama. Pode ser um amor por um Deus, mas deve ser amor pelo ser humano que são vistos pelo Backti como a face de Deus. Alguém que tem um amor devocional, não cobra e não espera, simplesmente ama, porque precisa disso, porque já entendeu que sua alma precisa disso. Que no fundo no fundo, quem ganha muito é quem ama. Entende que quando ama, já ganhou o que mais precisa, que é o efeito desse "amar".

Faço parte de uma comunidade de pessoas que fazem quimioterapia, eles aceitam parentes, terapeutas...etc....Sou parente e terapeuta, achei que ali era meu lugar e entre. Estar com outras pessoas, ouvir histórias de outras pessoas, saber das dores das outras pessoas, dá limite as nossas dores, nos sentimos acompanhados, e quando vemos, estamos amando! Estamos amando sem nem conhecer essas pessoas.

Leio todos os depoimentos todos os dias, me pego torcendo por cada uma daquelas pessoas, sofro quando algo dá errado, me alegro quando dá certo...elas fazem, parte do meu ciclo de amor expandido. Nem as conheço, e provavelmente nem irei conhecê-las, mas tenho uma amor profundo por cada uma delas. Algumas pessoas já sei o nome, já imagino suas conexões familiares, sei que estão começando ou terminando a quimio...sei que foram operadas ou não... sei quando estão sofridas e desanimadas e sei quando amanhecem animadas...tenho amor por elas. Algumas são esposas de pacientes com câncer, assim como eu; outras são filhos e filhas de alguém com câncer....uns falam muito em Deus, outros falam muito nos tratamentos....cada um no seu caminho, e ao mesmo tempo, todos juntos nesse caminho.

Obrigada pessoas que nem conheço...Obrigada por me provocarem tanto amor no coração. Posso deixar essa amor contagiar minha vida e todas as pessoas que circulam próximas a mim, e dessa forte estarei multiplicando essa energia e sentindo o poder contagiante de amar!

Namastê

Ludmila Rohr






sexta-feira, 27 de março de 2009

UM SONHO AUSPICIOSO


Eu sabia que escrever sobre minha visão de Deus provocaria algumas reações. Quando eu acabei de escrever o post anterior, pedi que meu filho Caio desse uma lida antes que eu o postasse. Gosto muito da visão dele. Somos muito parecidos em muitas coisas. Apesar dele só ter 21 anos, é maduro e profundo em seus pensamentos. Ele leu e disse que estava Ok, que não percebia nada de ofensivo nem chocante. Depois lembrei que Caio é ateu. Ele assim como eu, tem muita fé no homem, em tudo que podemos fazer com nosso corpo, com nossa mente e com nossos sentimentos. Acreditamos na criatividade e na inventividade do ser humano. Acreditamos nas mesmas coisas. Aquilo que eu chamo de características divinas do homem, ele chama de humano. O Deus que eu acredito, parece com o que ele pensa da vida. Acho isso muito lindo e percebo que difícil não é viver sem acreditar em Deus, dificil deve ser viver sem acreditar em nada...mais ainda, difícil deve ser viver sem amar e sem sonhar!

Acho que o câncer, assim como toda dor forte que passamos e que nos leva a experimentar a mortalidade e o medo, tem um poder nefasto de reduzir drasticamente a nossa capacidade de sonhar. Isso é enlouquecedor! Me pego as vêzes pensando em câncer muito mais do que deveria. Me pego querendo conversar com o meu marido sobre outros assuntos que não sejam câncer, alimentação anticâncer, acidez no sangue, cogumelos, graviolas, antioxidantes, leucócitos....quero falar sobre minha próxima viagem à Índia em 2010, quero falar sobre um filme que vi...ou melhor, quero ver um filme! Quero beijar, namorar, fazer sexo...quero amar, quero sonhar!

Sonhar é a capacidade humana mais divina que conheço. Quando sonhamos mudamos a vibração da nossa alma. A nossa alma abre-se para um mundo onde as coisas podem acontecer e atraimos energias que podem se realizar. Acredito piamente, que se podemos sonhar com algo, se temos elementos internos para fazer isso, temos poder também para realizar esse sonho. Todas as grandes realizações começaram em sonho. As curas também!

O oposto do sonho é a queixa, a lamentação. As pessoas que não sonham, se queixam e se lamentam. Reclamam da vida e se envolvem em energias pesadas e densas. Não conheço pessoas que sonham com coisas belas e realizáveis, que se queixem ao mesmo tempo! O sonho elimina a queixa, e a queixa é o pior ralo de energia que existe. O sofrimento, seja ele motivado pelo que for, pode nos afastar do sonho, porque somos, por conta da dor, arrastados para uma realidade muito dura...sonhar, nessas horas, pode parecer bobagem, mas não é!

Quero partilhar com todos que sofrem e que não querem abrir mão do sonho, uma oração védica (tradição milenar da Índia) que me acompanha e que foi a única oração que consegui gravar em toda a minha vida, já que tenho a prática de orações espontâneas!

Ela é assim:

"Que tudo que for auspicioso permaneça comigo, aquilo que não for auspicioso conectado comigo e com os meus, seja destruído!"

Meus sonhos são auspiciosos. Sonho com cura, beleza, paz, prazer, felicidade, generosidade, bondade, força, quietude, coragem, alegria, ternura....para mim e para todos. Tenho fé que não perderei minha capacidade de sonhar. Essa é a habilidade mais humana e eficiente que conheço de me aproximar de Deus. Essa é a caracteristica mais divina que nós temos. Sonhando, honro o Deus que existe em mim.

Namastê

Ludmila Rohr
P.S. Foto em Aimar, Rajastão, Índia. Um sonho, não?




terça-feira, 24 de março de 2009

Uma questão de fé?


Tenho participado de algumas comunidades do orkut relacionada a câncer. Tenho participado de muitas histórias fortíssimas. Leio nomes de drogas que nunca tinha ouvido falar. Participo de questões específicas de quem vive na pele ou de perto essa doença horrível. Tenho acompanhado algumas questões que nunca havia pensado antes. É um mundo inteiro que se descortina diante de mim.

O impacto disso é imenso, porque me dou conta do quanto minha visão de vida era limitada, apesar de considerar uma pessoa muito questionadora, curiosa a novas culturas, leitora ávida de muitas coisas...mas essa experiencia eu não tinha. Não me questiono o porquê de estar vivendo isso. Não acho que o câncer tem algo de especial no sentido de que ele por si só é transformador, redentor ou que passar por ele é para pessoas especiais. É uma doença dos humanos...todos estamos sujeitos a ela. Tento não moralisar essa doença, nem transformá-la em um ícone de alguma coisa. É uma doença. Mostra que somos mortais e que geramos na nossa vida tudo que precisamos para mantê-la e para destruí-la. Somos assim.

Como do ano passado pra cá tenho frequentado, além desses espaços virtuais também as salas de espera de clínicas e hospitais, acabo conversando com muita gente. Nessas conversas as questões relativas à fé sempre vem à tona. Isso me deixa confusa, questionando qual a minha relação com Deus e com a minha fé. As pessoas me dizem que para Deus nada é impossível. Que quem tem muita fé encontra a cura. Ouço também sobre o quanto devemos pedir, orar, rezar a Deus pedindo que ele nos envie essa benção. Conflitos internos surgem....não consigo definir bem "Deus" em minha vida, embora tenha uma espiritualidade praticante no sentido de buscar a paz, crescimento e evolução espiritual.

Sou mãe de dois filhos que foram muito desejados e amados. Meus filhos nunca tiveram que me pedir nada de joelhos. Não existe absolutamente nada nessa vida que eu não fizesse por eles se pudesse e, achasse que salvaria a vida deles. Confesso que, apesar de todas as faltas que devo ter causado na vida deles, atendo a muitos desejos sem a menor importancia, simplesmente por que não consigo deixar de atender. Imagine se não atenderia algum pedido se isso estivesse relacionado com a vida deles. Me desculpem aqueles que pensam diferente, mas o "meu" Deus não é assim.

Bom...é difícil e polêmico falar sobre isso, mas apesar disso, eu acredito em Deus. Infelizmente não acredito em um Deus que pode salvar meu marido se eu pedir muito isso, e não pode salvar outra pessoa, porque a mesma não pediu tanto. Não acredito em um Deus que salva, porque não acredito em um Deus que condena ou que não salva. A existência de um, implicaria imediatamente na existência do outro. Não acredito nem em prêmios divinos, muito menos em castigos. Queria muito acreditar, pois acho que as pessoas se seguram nisso e se sentem confortadas ou protegidas, e meu marido é do bem, por essa lógica ele estaria salvo.

Meu conforto vem de acreditar que tudo sempre dá certo. Que o câncer não é uma questão de morte, mas sim de sofrimento. Eu não tenho câncer, pelo menos não sei disso. Eu não sei do que, e quando irei morrer. Meu marido está com câncer, ele também não sabe do que, e quando irá morrer. Qual a diferença entre nós dois? A diferença imensa é que ele sofre agora. Ele passa por tratamentos dolorosos. Ele questiona a vida e o que fazer para viver mais e melhor. Mas...eu não deveria estar fazendo o mesmo? independente de estar com uma doença como essa ou não?

O medo da morte é absolutamente humano. Temos a certeza de que iremos morrer desde o início da nossa existencia. Como pode por causa de uma doença (que é horrorosa mesmo) passarmos a achar que estamos em risco de morte? Desde quando não estivemos?

Minha forma de me relacionar com Deus é acreditar que nada está fora de lugar. É acreditar na perfeição da vida. É acreditar que sempre encontrarei forças para caminhar o meu caminho, sempre encontarei acolhimento e possibilidades de revelar aquilo que tem de melhor em mim, e de me transformar...de crescer...de ser uma pessoa melhor.

Assim é a minha fé.

Namastê!

Ludmila Rohr

P.S. Foto no maior templo mulçumano da Índia (New Delhi)

domingo, 22 de março de 2009

Compartilhando...


Menos um fim-de semana de efeitos da quimio. Judson começa a sair da prostração e até quer comer alguma coisa. Apesar de não sair de casa, e de ficar ao lado dele esperando que ele precisasse de mim pra alguma coisa, muitas coisa aconteceram nesse fim-de-semana; aliás, nunca mais tinha vivido dias com tantas emoções, com tantas experiencias e trocas. Saio desse fim-de-semana muito diferente de quando entrei e sou muito grata à vida por ter me proporcionado isso.

Entrando em comunidades do orkut dedicadas a pessoas com câncer ou parentes de pessoas com câncer, conheci muitas histórias de pessoas que lutam contra essa doença. Pessoas de verdade que sentem medo, esperança, raiva, coragem, fraqueza, certeza, ansiedade, dor, dúvida...e que confessam seus sentimentos numa tentaiva de sentirem-se melhor, mais acompanhadas e de fazerem outras pessoas se sentirem melhor.

Li muitas histórias de pessoas de todas as idades, de muitos credos, de muitas partes do país, pessoas que se desnudam e generosamente oferecem seus testemunhos e confissões para todos que quiserem compartilhar suas dores e esperanças.

Pequenas alegrias, grandes esperanças, tensões, medos e ansiedades comuns a todos. O resultado de um exame que veio bom e permitiu a quimio, é motivo de uma grande celebração; a contagem regressiva das quimios, os kg ganhos ou perdidos, a fome exagerada ou a falta de apetite, os cabelos que caem e os cabelos que voltam a crescer, o intestino que solta ou que prende, a relação com os pais, os filhos, os maridos, as esposas, os amigos... a notícia da morte de alguém e a notícia da cura de alguém....

As pessoas são diferentes, mas os fantasmas são os mesmos, os medos também... as esperanças também...

Um grande obrigada a todos os meus amigos virtuais que me acompanharam esse fim-de semana e que certamente estarão ao meu lado nessa jornada de cura que farei ao lado do meu marido.

Namastê

Ludmila Rohr


sábado, 21 de março de 2009

Ação na Inação


Estamos no fim de semana "Não". Judson fez quimioterapia e agora vive os efeitos colaterais dela. Os efeitos curadores não podemos ver, nem sentir, temos que imaginar que essa coisa tão desagradável o está curando. Temos que metalizar isso, para não cair nas queixas, nem se sentir vítima de nada. Prostração, inapetência, náuseas, fraqueza, mudanças de humor, muito sono....tudo isso acontece nesses dias, mas o que é incrível é que de alguma forma vamos encontrando maneiras de atravessar isso da melhor forma possível.

O fim de semana passado que chamei de "Sim", e que fomos pra Praia do Forte, namoramos, comemos, nos divertimos, nos amamos, faz oposição é esse fim de semana que é do "Não". Não podemos fazer nada, não saimos de casa, não rimos...ele descansa....come muito pouco, dorme...e eu faço companhia...fico ao lado, escutando e tentando atender as demandas.

Percebo o quanto essas denominações (Sim e Não) não revelam a verdade. Como todo rótulo, acaba por limitar e se distanciar da verdade. Me dou conta de que no fim de semana "Não", vivo intensamente questões internas, invisíveis, tenho ações de expressão minimalista do meu amor. Não mergulhamos no mar e nos beijamos, mas posso levar uma maçã já cortadinha em cubinhos pra ele no quarto. Posso ficar atenta ao que ele precisa e tentar atender. Compreendo que são dias muito ativos, silenciosamente ativos. Faço muitas coisas pequenas, silenciosas...e o meu mundo interno está em constante movimento.... reflito, medito, estou atenta a tudo, minha mente fica expandida e concentrada ao mesmo tempo... é a ação na inação!

Bom, esses dias passarão, como tudo. E nós, com todas as vivencias com as quais fomos contemplados, estaremos aqui para contar histórias e para nos olharmos sem arrependimentos, e com a paz no coração própria daqueles que sabem que fizeram tudo que podiam e da melhor forma possível.

Namastê!

Ludmila
P.S. Em Paris....

sexta-feira, 20 de março de 2009

Arrumando o guarda-roupa


Uma amiga me disse ontem que eu estou mudada.... que eu estou diferente. Imediatamente respondi, que pra mim parecia óbvio que eu estivesse em algum nível diferente, minha vida está diferente... e a vida tem me pedido muitas mudanças! Respondi que mudar é preciso, que se não mudamos, cristalizamos, enrijecemos....Mas em seguida parei pra refletir sobre o que ela estava falando, que mudanças ela estava sinalizando e se realmente eu estou mudada. Achei que minha resposta foi defensiva, rápida demais, ou teórica demais. Realmente espero mudanças constantes em mim, pois sempre procuro o crescimento... a necessidade de mudar é óbvia, mas não fiquei muito convencida de mim mesma. Quero sempre mudar, mas será que tenho conseguido?

O que será que está mudado em mim? Penso agora que não são muitas coisas, mas talvez sejam pequenas coisas que refletem em todas as outras. Minha crença de que a vida é agora, não mudou. Penso assim faz tempo...tem tempo que sinto no meu coração e corpo que não posso jogar fora nenhum segundo da vida, que não devo procrastinar decisões, nem pedidos de desculpas, nem demonstrações de amor; sei já faz tempo, que a vida pode ser simples, que existem coisas que nos fazem sofrer, mas que na verdade não tem importância alguma; sei também que os amigos valem a pena, que os sentimentos de verdade valem a pena, que meus sonhos valem a pena, que meus filhos valem a pena, que meu Amor vale a pena, sei que mergulhar para dentro de mim e descobrir coisas que as vezes nem gosto muito, vale a pena!... Tenho tentado estar atenta ao que vale a pena e ao que não vale a pena, e fazer boas escolhas sobre onde quero investir energia!

Acho que quando essa amiga falou que eu estava mudada, talvez ela estivesse falando do fato de que a cada dia que passa, tenho mais consciencia de que eu não quero mais nada na minha vida sobrando. Não quero acumular nada que não tenha um sentido, que não faça sentido, ou que eu saiba que não vai me levar a lugar algum... ela falou isso quando eu disse que precisava arrumar meu guarda-roupa, que precisava me livrar e doar muitas coisas que lá estão acumuladas e que não me servem mais. Servem pra alguém, mas não pra mim...não preciso guardar o que não me serve, não preciso ter energias paradas na minha vida.

Sempre gostei de arrumar guarda-roupa. Arrumar guarda-roupa é de um simbolismo imenso! Toda vez que arrumo o meu, me dou conta de que muitas coisas não estavam lá da última vêz! Como consegui comprar tantas coisas nesse tempo? Ou, quanto tempo tem que não arrumo meu guarda-roupa? Pra que guardar tantas coisas? Adoro fazer isso! Adoro sentir que poucas coisas que ali estão, realmente tem importância e que preciso de muito menos do que tenho! Arrumar guarda-roupa é uma faxina simbólica e concreta também! Sinto leveza ao me desfazer de tantas coisas acumuladas, ocupando espaço e paralisando energias... Sinto a leveza e felicidade imediatas que o desapego produz. Sinto no meu quarto e na minha alma.

Lembro imediatamente de uma cena na minha 1ª viagem à Índia, quando, em uma estação de trem em Jhansi, vi indianos esquálidos, carregando as nossas incontáveis e pesadíssimas malas... senti naquele momento muita vergonha de carregar tantas coisas. Pensei que eles, os carregadores, deviam estar perplexos com a quantidade de coisas que tínhamos. Pensei que provavelmente o conteudo de apenas uma daquelas malas, seria equivalente a tudo que eles juntos possuiam durante toda uma vida! E o que é pior...pensei que além de acumularmos tanto peso, ainda queremos que alguém carregue por nós! Senti tanta vergonha naquele dia que chorei.

Bom acho que não mudei muito, mas de qualquer forma.....vou arrumar meu guarda-roupa e me livrar de algumas coisas que não fazem mais sentido!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Carregadores das nossas malas na estação de trem em Jhansi na Índia.


quarta-feira, 18 de março de 2009

EU POSSO TAMBÉM!


Começou outra semana de quimio...nesse exato momento Judson está recebendo drogas na veia e ficará assim até sexta-feira. É impressionante como o tratamento que pode salvá-lo, causa imediatamente tanto desconforto e mal estar, e exatamente por isso temos que imediatamente iniciar um trabalho mental para receber o "desagradavel" com tranquilidade! Esse é um super trabalho! Penso que, se ele desenvolve resistencias ao tratamento, o mesmo será mais dificil ainda. Ao mesmo tempo, não desenvolver resistencia àquilo que nos causa desconforto é muito difícil...


Tenho uma fala que comumente repito para os meus alunos de yoga quando diante de uma postura um pouco mais complicada, eles reclamam dizendo: Poxa, mais é tão difícil! Eu digo: Viver é difícil! Não existe nada fácil! ....Nessa minha fala não existe nenhum tipo de pessimismo ou algo parecido, muito pelo contrário, essa minha forma de ver a vida sempre me colocou diante dos desafios de uma forma natural e com pouca resistencias e sem queixas e lamentações, porque acho muito natural a dificuldade da vida e de seus desafios...não acho que vai ser diferente nunca...temos momentos de descanso, mas pra quem caminha, não existe acomodação, e onde existe movimento, existe desafios...


Recebi de uma aluna querida, ela já fez isso antes, uma frase linda de Ariano Suassuna, ele diz: "...pois na dor também se vive, e pode-se viver com Alegria!". Obrigada Rita! Acredito nisso. Tenho vivido e experimentado isso. As alegrias estão presente, sinto-me uma pessoa feliz, grata, acolhida, acompanhada...


Tem outra coisam que sinto e percebo que por conta disso, faço parte de uma grupo seleto de pessoas. ADORO MEU TRABALHO! Adoro tudo que faço! Meu trabalho é um alimento precioso. Ele está diretamente relacionado com o meu prazer!! Acho muito especial ter um trabalho em que produzo minhas condições materiais de vida, mas que ao mesmo tempo me alimenta em outros níveis. Sair para trabalhar é um prazer, e vivo um momento profissional excelente, adoro trabalhar...simplesmente adoro! Adoro cada atendimento que faço, cada aula que dou. Sinto uma felicidade enorme e percebo como sou feliz por isso.


Quando comecei esse blog, algumas pessoas me perguntaram como seria me expor diante dos clientes. Como seria pra mim ou para os meus clientes saberem que eu sofro, ou que eu choro? Como seria para eles participarem desse momento tão doloroso e íntimo? Essa era a pergunta que me faziam. Eu pensava: Será que algum cliente ou aluno imaginou em algum momento que eu não sofresse ou não chorasse? Que tipo de pessoa eu seria se não chorasse ou não sofresse? Que tipo de terapeuta eu seria se não fosse uma pessoa que chora e sofre?


De fato isso nunca foi uma preocupação pra mim. Sou assim. Não consigo me imaginar presa a nenhum tipo de imagem, por conta do meu trabalho. Não sou alguém "Zen" por que sou professora de yoga, não sou alguém que não sofre...O yoga e a psicologia, mas sobretudo o Yoga, me deram a possibilidade de SER, livre de qualquer prisão...de ser quem eu sou...de viver minha dores e ser feliz ao mesmo tempo...porque aprendemos com o yoga a relaxar no esforço...isso o yoga me ensinou!


Aprendi também que os únicos demônios que existem são aqueles que moram dentro do meu coração, então não consigo vê-los fora de mim. Não consigo ver o câncer como um "demônio"...mas a forma como eu o vejo pode ser demoníaca...assustadora. Aprendi também que tudo que preciso, está dentro de mim...isso é libertador. Significa que nada me falta! e aprendi ainda que, se alguém conseguiu fazer uma coisa, isso significa que potencialmente todos poderiam conseguir fazer o mesmo. Se alguém escalou o Everest, eu poderia também. Se alguém enfrentou um determinadao desafio...eu posso também. Se alguém atravessou uma dor, eu posso também!


O que não nos falta na vida são os exemplos de pessoas que conseguiram, que venceram, que atravessaram sua dificuldades...e ainda temos exemplos daquelas que fizeram isso com alegria, com paz no coração, sem queixas... com amorosidade e com dignidade...Eu posso também!

Namastê!

Ludmila Rohr

domingo, 15 de março de 2009

Sol, mar, celebração do amor e do prazer


Super fim de semana "Sim"! Almoço com filhos e noras...jantar na Praia do Forte e ... resolvemos dormir lá! Bom, Praia do Forte pra quem não conhece, é um dos lugares mais deliciosos e lindos aqui na Bahia. Adoro tudo lá. Adoro andar na areia, mergulhar na praia que são verdadeiras piscinas de agua quente, adoro comer, dormir, acordar, namorar...adoro tudo em Praia do Forte. Adoro ainda mais quando posso celebrar algo lá! Eu e Judson somos ótimas companhias um para o outro. Gostamos muito de ficar juntos e, a Praia do Forte tem sido um cenário muito presente nas nossas vidas.

Nao é difícil pra mim achar motivos para celebrar. Sou daquelas pessoas que vê o copo meio cheio, e não meio vazio. Sempre acho que podemos celebrar alguma coisa. E nesse momento da nossa vida, não é difícil celebrar, e ainda mais, acho que é primordial fazer isso. A energia da celebração é a energia da gratidão, e sempre acho que temos muito a agradecer. Viver um fim de semana como esse, de sol, amor e prazer em meio a tudo que estamos vivendo, pra mim, é mais do que motivo para agradecer e celebrar!

Bom...foi tudo isso mesmo! A Deusa Lakshimi nos envolveu e nos permitiu abundancia de amor e prazer. Sem horários, sem compromissos, sem amanhã, sem ontem...só eu e Judson naquele paraiso. Estávamos nos alimentando merecidamente da energia da água salgada do mar e do sol. Energias que preencheram, sem cerimonia, os nossos corpos e nas nossas almas.

Esse momento de comunhão com a natureza nos favorece o contato com a nossa infinitude. Quando nos unimos a essa beleza infinita, somos infinitos. Quando nos identificamos com toda a perfeição da criação, somos perfeitos. Quando reconhecemos que tudo que precisamos, ali está, nos damos conta de que nada nos falta!

Assim nos sentimos hoje! Nada nos falta. Temos a coragem que precisamos. Temos o amor que precisamos. Temos a força que precisamos. Temos o sol, o mar, o amor um do outro, temos nossos filhos que amam também. Temos a Centelha Divina no nosso coração que nos lembra que pertencemos a um plano maior que sempre nos indicará o caminho do nosso crescimento. Temos a leveza de quem sabe que faz a sua parte da melhor forma possível... assim caminharemos para essa semana que começa, que será mais uma semana de quimio ou menos uma semana de quimio...ou "a" semana da quimio, com a certeza de que ainda iremos celebrar muito mais!

Namastê!

Ludmila Rohr

sábado, 14 de março de 2009

Fim de Semana SIM!


Esse é um final de semana "SIM". Explicarei. É o fim de semana sem os efeitos devastadores da quimio. A vida anda normal nesses dias. Temos a autonomia relativa que sempre temos e podemos fazer aquilo que desejamos. Podemos até desejar! Nos fins de semana "NÃO", não temos autonomia alguma, nenhum desejo pode ser desejado sob pena garantida de termos que lidar com frustrações, e temos que simplesmente esperar passar.

Estamos no SIM!!! e hoje meus dois filhos trarão as namoradas pra almoçar aqui em casa! Isso é inédito na minha vida. Explicarei: Lucas está pela primeira vez, vivendo um namoro e acho que ele está realmente gostando de namorar. A namorada de Caio, que está trabalhando em SP, passará esse fim de semana aqui em Salvador. Eu adoro que eles namorem. Fico feliz quando eles estão namorando....adoro conhecer minhas noras e ver que eles estão sendo queridos e estão apaixonados. Acho que homens apaixonados são mais felizes, mais abertos, mais lindos....

Não tive filhas...só eles dois, que são lindos! Sempre achei que um homem fica mais lindo quando ama. Judson nunca teve problemas em me amar explicitamente, queria que meus filhos também tivessem essa possibilidade, de simplesmente se entregarem ao amor, e as experiencias prazerosas do sexo e dos afetos. Desejei muito que eles não resistissem a essas experiencias e pudessem vivê-las sem reservas e com o corpo e o coração!

Esse é um Final de semana SIM, eu e Judson estamos cheios de amor...Caio e Lídia estão cheios de saudades, e Lucas e Lissa estão nessa fase linda de apaixonamento inicial! Vou comprar flores para minha casa, abrir as janelas, e deixar que essa energia amorosa e de alegria se espalhe generosa para todos que dela precisarem. Essa é uma energia curadora. É uma energia de grande poder e transformação! Sinto que estamos envolvidos por Lakshimi, a Deusa da Beleza e da Abundância. Então, que sejamos reverentes a ela!

Hare Lakshimi!

Namastê!

Ludmila Rohr



quinta-feira, 12 de março de 2009

O beijo que dei


Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guardar
não lhe pertence
Nunca lhe pertencerá...

Conheci a letra dessa música e me encantei...ela se chama Pop Zen de Alexandre Leão. Ela é simples, palavras contadas...parece que nada sobra, me dá a sensação que está na medida exata. A delicadeza das palavras que não excedem nenhuma medida, não rebuscam, nem elaboram, dizem apenas o que deve ser dito, refletem o tema da música, que fala (pra mim) sobre como nos relacionamos com aquilo que pensamos possuir....com as pessoas, com as coisas, com os sentimentos, idéias, sonhos....

Tudo que você tem não é seu
Tudo que você guardar
Pertence ao tempo, que tudo transformará
Só é seu aquilo que você dá

Eu apenas tenho o que posso dar, aquilo que não posso dar, pertence ao tempo. Claro! As pessoas mais ricas que conheço, são aquelas que são generosas...que simplesmente dão, não economizam em dar aquilo que acham que tem de melhor. Elas opinam, elas sonham e compartilham seus sonhos, elas dividem suas experiencias, elas ensinam o que aprenderam, elas amam sem economia...elas dão a quem precisar seus afetos, suas histórias e sua energia...aliás, como se guarda energia? Não consigo entender as pessoas que dizem que precisam preservar sua energia! Como se guarda aquilo que não possuimos!

Tudo aquilo que voce não percebeu
Tudo que não quis olhar
É como o tempo
que voce deixou passar

Não há como voltar o tempo. Assim como não há como atravessar o mesmo rio duas vêzes. Não seremos os mesmos daqui a um segundo. Ninguém será o mesmo. As chances também não serão. Os sentimentos muito menos. Por que então perdemos ou desperdiçamos momentos tão sagrados? Por que economizamos tantas palavras e afetos? Po que nos escondemos tanto?

Tudo aquilo que voce escondeu
Tudo que voce não quis mostrar
Deixe que o tempo, com o tempo
Vai revelar

O tempo é o senhor. Nada passa despercebido dele. Em algum momento teremos que olhar para as nossas histórias mal vividas. Em algum momento teremos que nos deparar com as nossas mentiras. Teremos que olhar para um espelho e nos haver com o que veremos. E por que mentir pra nós mesmos?

Só é seu aquilo que voce dá
O beijo que você deu
É seu, é seu
É seu beijo!

O beijo que não foi dado não existe. O amor que não foi amado não existe. Os afetos que não foram vividos e expressados não existem. São idéias de um beijo, mas não o são. São idéias de um amor, mas não o são. São idéias de uma afeto, mas não o são...

A vida é esse momento. Não existe nada além disso, por que não viver a única coisa que de fato existe?

Namastê

Ludmila Rohr
P.S. Foto de um beijo que foi dado no Taj Mahal, Índia



quarta-feira, 11 de março de 2009

Sou forte....

Ontem senti cansaço...muito cansaço. Acho que quando Judson melhora, me dou ao luxo de me sentir cansada. Chorei muito. Chorei ouvindo música italiana no carro. Chorei ao pensar nos meus filhos. Chorei com saudade de ter alguém que cuidasse de mim...enfim, fiz um contato com minhas carências. Não é saudável negá-las. Tenho sido forte e corajosa, mas sou uma pessoa como outra qualquer. Tenho medos e carencias. É bem verdade que normalmente não mostro isso, por que acho que devo me organizar, que tenho instrumentos internos pra isso...aí eu respiro, medito, reflito...sinto meu corpo e de fato consigo me equilibrar, consigo me conectar com minhas forças, com minha coragem e com tudo que tenho dentro de mim que me sustenta nessas horas.

Algumas pessoas reclamam que sou forte demais, questionam isso. Me dizem que eu não mostro minhas fraquezas. Não acho isso. Sou forte mesmo e construi essa força ao longo dos anos e com muita prática de yoga, meditação e muita terapia. Me conheço bastante e também consigo me organizar internamente. Não me sinto desintegrada, ou desesperada. Não conheço isso, pois estou buscando manter a minha integração e lucidez todo tempo e sempre, independente da situação. Essa é a prática rotineira da minha vida nas mínimas coisas e nas máximas também. Isso é o que significa incluir a meditação e o yoga na vida, e não só em alguns momentos da vida. Realmente acredito nisso, acredito na minha prática pessoal. Acredito porque sinto que funciona, não porque está escrito em algum lugar.

Mas não tem sido fácil. Conto com amigas queridas com quem posso chorar. Conto com minha mãe e meu pai, com quem eu evito chorar para não preocupá-los, mas eles me conhecem muito e me ajudam mesmo sem eu pedir. Conto com minhas irmãs. Conto com tantas pessoas. Mas certa ou errada, eu sempre achei que tinha que contar comigo mesma, esse foi o meu aprendizado. Não suporto o lugar da vítima. Lembrei que em uma situação em um treinamento na minha formação como Analista Bioenergética, vivi um enfrentamento com uma pessoa que hoje é uma amiga muito querida, mas na época, ela reclamava da minha força, daquilo que ela chamava de excesso de energia, dizia que se sentia ameaçada pelo meu jeito de ser que ela julgava muito duro...enfim, ela chorava muito e eu não. Todos do grupo a acolheram e a mim, não. Lembro de ter dito pra ela e para o grupo, que preferia o lugar de algóz que ela estava me colocando, do que o lugar horroroso de vítima que ela estava se colocando, mesmo me sentindo só e dolorida com as acusações públicas, falei isso. Claro que fiquei mais sozinha ainda. Parece que as pessoas tem mais facilidade de acolher aqueles que se fragilizam e dificuldade em ver que os que não se fragilizam também sentem.

Bom...não sou mais tão dura assim. Hoje já choro e consigo mostrar minha alma feminina. Haja vista tantas manifestações amorosas que recebo o tempo todo de várias formas. Isso pode significar que eu estou mais exposta na minha vulnerabilidade humana. Mas ainda acho que tenho que dar conta da minha vida. Já entendi em terapia e nas minhas buscas que tenho orgulho da minha força, isso é bom ou ruim? Não sei. Provavelmente bom e ruim ao mesmo tempo. Devo mudar isso? Não sei também. Mas sei que essa é a minha forma de estar na vida.

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Yoga! aquilo que faz com que eu experimente no corpo as voltas que a vida dá.


terça-feira, 10 de março de 2009

Mulheres!!!!!


Sou uma mulher de 45 anos. Não tenho problemas com minha idade, pelo menos até então. Gosto da idade que tenho. Gosto do meu corpo maduro e da pessoa que sou. Até agora gosto de tudo que veio com a idade. Sei que poderia não ter vindo...por que as coisas não chegam simplesmente, mas nesses anos, vivi muito e acho que fui muito intensa na forma que vivi, por isso, gosto do resultado. Nesses anos, procurei ser honesta acima de tudo com o meu coração e aceitei muitos desafios que a vida me proporcionou. Normalmente não fujo deles, embora muitas vezes desejasse isso. Cresci muito, me transformei e agreguei em mim muitas experiências femininas.

Lacan famoso psicanalista francês afirmava - "a Mulher não existe" para explicar a ausencia de resposta para a grande pergunta feminina que é : "O que é ser mulher?". Parece que essa pergunta não tem mesmo resposta, ainda não sei porque. Passamos muito tempo nos perguntando isso - O que é ser mulher? e nos respodemos em forma de poema, verso, prosa e em músicas lindas! .. até utilizamos a mitologia para tentar explicar, mas acho que não conseguimos!

Acho que realmente não tem uma resposta para o que é ser mulher...acho que teremos que nos render a isso, mas de qualquer forma quando me vi, em um círculo de mulheres, ontem lá no Espaço Mahatma Gandhi em uma vivencia em homenagem ao Dia da Mulher, me senti muito querida, muito especial...e entendi com o meu coração aquilo que já sabia...adoro ser mulher!

Lá estavam mulheres tão diferentes, de todas as idades, em momentos diferentes de suas vidas...mas no fundo éramos todas iguais, nos sentiamos assim.... vivendo um momento sagrado, de encontro, de carinho, de acolhimento, de alegria, de tristeza, de grande e profundo vínculo, e o que nos vinculava de forma tão íntima naquele momento, era que sabiamos que somos Mulheres. Isso era o bastante!

Beijos a todas as mulheres!

Ludmila Rohr
P.S Na foto, eu e as mulheres mais importantes da minha vida! Minha mãe e minhas irmãs!


sábado, 7 de março de 2009

Eu e ele


Esses dias pós quimio são difíceis....Judson fica muito prostrado, sem energia....dorme muito, come muito pouco. O remédio pra aliviar o enjôo dá muito sono...enfim...parece que assim serão os próximos 6 mêses, alternando um fim de semana super bem disposto, com outro que vem depois da quimio em que ele fica muito abatido. Hoje ele ficou na cama deitado o dia inteiro. Parece que o corpo precisa se recuperar da bomba de drogas que recebeu. Não sobra energia pra nada, mas ele diz que se for pra paasar por isso, que está tudo bem. Ele não é queixoso nem demandante. Ele fica quieto, e isso às vêzes parte meu coração.

Descubro com isso que sou paciente e que tenho muito cuidado amoroso com ele. Não me sinto ansiosa. Não tenho desejos de sair, de ver pessoas ou de fazer coisas, muito pelo contrário. Estou bem ali do lado dele. Ele de vêz em quando me olha e diz que podiamos dar uma voltinha, mas sei que ele está dizendo isso por que fica preocupado comigo. Ele se preocupa que eu fique entediada ou cansada. Digo pra ele que não tenho essa necessidade, que estou bem, que estou tranquila ali, exatamente onde deveria estar, ao lado dele. Não tenho ansiedades porque me parece que não existe outro lugar pra mim. Nesse momento, é esse o meu lugar.

Quando casei aos 21 anos, achei (como a maioria das pessoas que casam apaixonadas) que havia encontrado a pessoa com quem queria viver o resto da minha vida. Recebia de Judson amor, respeito a minha individualidade, amizade, sexo de qualidade, cuidados atenciosos, proteção e muito mais. Desenvolvemos nesses 25 anos que nos conhecemos uma amizade muito preciosa. Gostamos da companhia um do outro. Somos muito diferentes um do outro, muito mesmo!! Eu falo pra caramba e ele, escuta. Às vêzes, acho que ele nem escuta, reclamo, ele jura que tava escutando...rimos, e eu continuo falando pra caramba e ele escutando...

Ele é a pessoa que escolhi pra viver junto. Foi uma escolha da paixão e depois do amor. Claro que tivemos nossos problemas ao longo desses anos, temos muitas diferenças, mas temos algo que é muito especial...gostamos da companhia um do outro. Nossos filhos cresceram, e são muito independentes, namoram e tem suas próprias vidas, o que achamos ótimo! Por isso, ficamos muito tempo sozinhos, um com o outro, viajamos sozinhos, almoçamos e jantamos sozinhos, e gostamos disso. Gosto de ficar com ele. Gosto de saber que é ele quem está vendo o meu corpo envelhecer e minhas rugas surgirem, e que quando a casa estiver vazia, seremos nós dois.

Sei que ele achava, e ainda acha que é muito pesado pra mim cuidar dele. Sei que ele acha que não é natural pra mim fazer isso. Ele tenta me poupar, porque sabe o quanto sou individualista, talvez egoísta. Entretanto, nunca gostei tanto de mim como agora. Descubro que sou muito melhor do que imaginava. A doença dele está servindo pra que eu conheça outros aspectos de mim mesma que nem eu sabia que existiam, nem ele! Infelizmente foi dessa forma que descobri isso. Preferia não descobrir. Preferia continuar mimada e mal acostumada por ele, que me mantinha no meu egoísmo infantil, a vê-lo sofrendo e abatido como tenho visto, mas, assim é a vida e tenho descoberto que somos muito mais ligados um ao outro do que podia imaginar!

Amanhã é o Dia Internacional da Mulher e quero desejar muito amor, muita coragem, muita serenidade e força a todas as minhas amigas, irmãs, clientes, alunas, colegas; mulheres que fazem parte da minha vida e que moram no meu coração!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. foto clássica em Veneza


quinta-feira, 5 de março de 2009

Tocada no corpo e na alma...


Ganhei uma massagem de presente. Não foi a primeira vêz. Sempre ganho massagens de presente da minha amiga Lídia. Ela é uma massoterapeuta de primeira qualidade, também é psicóloga, e minha colega no Espaço Mahatma Gandhi e da vida. Ela sempre manisfesta o seu amor por mim (que é recíproco) de várias formas. Ela me faz rir como poucas pessoas conseguem, ela me ouve, ela compartilha comigo suas histórias....nós confiamos uma na outra. Sinto que ela me compreende e com certeza, ela se sente compreendida por mim. Ela é uma amiga do coração, e ela sabe disso!

Receber uma massagem é um presente delicioso para mim, pois adoro minhas experiências corporais, principalmente quando elas me colocam em contato direto com minha alma. Tenho experiências muito agradáveis com meu corpo. Ele não é um fardo para mim, muito pelo contrário. Normalmente não tenho dores e sinto o meu corpo como um espaço sagrado onde minha alma se expressa, onde meus sentimentos se revelam. Por isso adoro o yoga, sinto isso quando o pratico. Por isso acho que receber uma massagem feitas por mãos de quem me ama, e me quer bem é algo impagável! Não tem preço. É um presente muito especial.

Hoje minha amiga mais uma vêz entrou na minha alma através do meu corpo... e tocou minhas histórias, porque é isso que uma massoterapeuta faz...toca nas histórias através do corpo. As minhas lágrimas simplesmente saiam... brotavam....rolavam sem a menor cerimônia, e como eu estava em ótimas mãos...não fazia nenhum esforço para controlá-las...elas lavavam minha alma e eu permitia....sou feliz por isso!

Quem já recebeu uma massagem assim (no corpo e na alma) sabe do que estou falando. Saimos leves, como se tivéssemos mergulhado numa cachoeira...ou no mar num dia de sol. Alimentados e tranquilos. E foi assim, nesse estado de contentamento, que vivi outra experiencia de muito amor. Me deparei com Valéria, uma aluna de yoga que não via desde o ano passado e que voltou pro yoga, agora está grávida e linda! Ela é realmente linda...e ao me ver....me abraçou, chorou, disse que lia meu blog....e linda, grávida e emocionada, me tocou outra vêz muito profundamente...me deu carinho e me emocionou com sua emoção....A gravidez é muito sagrada para mim, já falei sobre o quanto me senti feliz , linda e poderosa as duas vêzes que vivi essa experiência....Essa mulher linda, que me abraçou com sua linda barriga, me tocou com sua energia transbordante e de muito poder...A linguagem do coração é muito poderosa.

Obrigada Lídia e Valéria, sei que voces vão ler esse blog...portanto preciso dizer que hoje voces fizeram desse dia, um dia especial de demonstrações de amor e carinho. Voces são a prova do quanto a vida se renova, e do quanto que a vida é generosa comigo. Sou feliz e grata!

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Na foto estou com Lídia!



quarta-feira, 4 de março de 2009

Um passo...isso é o caminho!


Mais uma ou menos uma?
Fiz essa pergunta pra Judson hoje quando nos dirigiamos para a clínica para a sessão de quimioterapia.

O dia amanheceu lindo, claro, ensolarado, e como moramos em frente a praia no bairro de Piatã, e vamos até Ondina, atravessamos uma boa parte da orla da cidade de Salvador. Praias lindas! Dia tranquilo. Fomos mais ou menos em silêncio durante o trajeto....eu fico pensando.... Aliás, eu e Judson temos formas interessantes do nos organizarmos internamente. Somos tranquilos pra fazer o que deve ser feito. Temos baixíssima resistência a esse processo. Simplesmente fazemos tudo que deve ser feito e sem muitas queixas.

Ontem à noite fiquei olhando pra ele tão bem disposto e pensando que ele iria a partir de hoje passar mal outra vêz, que iria começar os vômitos, inapetência e náuseas. Lembrei da outra vêz e pensei que estávamos apenas no começo, que seriam 12 sessões, que essa será apenas a segunda! Lembrei de um dito popular: A ignorância é corajosa! Entendo porque muitas pessoas preferem a ignorancia, ela tem um certo conforto. Mas, devo discordar dessa fala, porque quando não sabemos do que vamos enfrentar, simplesmente atravessamos, não precisamos de coragem...a ignorancia é cega, mas não é corajosa! Quando sabemos o que nos aguarda, aí sim precisamos de coragem. Precisamos de tranquilidade e de uma mente atenta ao momento presente!

Então imediatamente organizo minha mente....essa sessão não é "ainda" e "tão somente" a segunda, como pensariam os pessimistas vislumbrando uma longa e dura jornada pela frente...., muito menos, essa sessão "já" é a segunda, que seria um pensamento dos "otimistas" que tentam criar uma fantasia de leveza, tentando negar as dores. Esta é A SESSÃO, essa é a única que importa, é a única que existe, não é nem mais uma, nem menos uma, é a sessão. Precisamos apenas dar um passo de cada vêz! Construir um caminho que, segundo Buda, não existe. Um caminho que só existe a medida que cada único passo é dado! Então nesse momento apenas um passo! Um de cada vêz! Por enquanto, só esse.

Namastê!

Ludmila Rohr
P.S. Foto de um amor sob sol da Toscana (Itália)


segunda-feira, 2 de março de 2009

Amar sem economia!


Meu filho está triste. Ele vive nesse momento uma perda que certamente o faz experimentar sentimentos contraditórios. Sua namorada, seu amor, foi morar em SP, foi realizar um grande sonho profissional. Ela batalhou muito pra conseguir isso, e com certeza está muito feliz e muito triste nesse momento. Ele também. Essa parece ser uma história comum de amor entre dois jovens, mas não é.

A relação de Caio com o amor não é comum. Ele, diferente da maioria dos rapazes da idade dele, nunca teve medo de amar. Ele sempre amou muito sem nenhuma economia. Ele amou quando era criança. Teve uma "namorada" quando estava com uns 5 anos, e amou sem reservas e do jeito que é possível para uma criança. Ele amou quando era um púbere, amou muito na adolescência e ama muito agora, no final dela. Ele teve poucas namoradas, não era de "ficar" e estava feliz quando estava amando.

Esse amor que ele vive agora, é um amor adulto...a relação é adulta, o envolvimento é adulto e por isso mesmo tem que lidar com as questões da vida adulta. Trabalho, futuro...etc...tudo nessa fase da vida tem consequencias e é preciso pensar na vida, não apenas vivê-la. Então, minha norinha foi embora....imagino que aos prantos...e eu terei que ver meu filho triste e saudoso...

Sempre achei lindo o fato de Caio ser feliz amando. Nunca coloquei nenhuma dificuldade nas relações dele. Sempre gostei muito do fato dele abrir o coração sem medo e se entregar ao amor, mesmo que isso o levasse a algum sofrimento. Pensava que é lindo amar e que uma vida sem amor, é uma vida sem sabor, sem saudades...sem lembranças...sem graça.

Já ouvi muitas histórias de dor e sofrimento que levaram seus protagonistas a concluirem que não querem mais amar, que o amor causa dor, e por medo da dor, da possibilidade da perda ou de estar "nas mãos" do outro, as pessoas fecham o coração. Nessas histórias, o amor parece ser o culpado...as pessoas querem acreditar que é o amor que as levaram ao sofrimento, e não seus apegos, inseguranças e desejo de dominação...etc.

Bom...acho lindo amar, acho que amar é a maior necessidade do nosso coração. Acho que as pessoas confundem a necessidade básica do coração de amar, com a necessidade de ser amado. Amar alimenta, amar enriquece, amar traz beleza....não vejo sombra em alguém que ama. O verdadeiro amor, traz liberdade e leveza. Quando se ama, se quer o melhor para o amado. Amar faz bem ao corpo, a mente e ao espírito.

Fico triste por ver meu filho sofrendo, mas certamente ficaria muito mais triste se ele fosse indiferente ou que se defendesse do amor.

Namastê

Ludmila Rohr