quinta-feira, 28 de maio de 2009

Minha religião é algo muito íntimo...


Acho as coisa relativas à religião muito interessantes, exatamente por isso tenho muito respeito por qualquer prática religiosa. Costumo não misturar Deus com religião. Pra mim são assuntos absolutamente distintos. Nunca tive nenhuma prática relacionada a nenhum grupo religioso. Nunca frequentei nenhuma igreja e nunca senti falta disso. Minha relação com Deus é íntima e não envolve outras pessoas, não preciso de grupos, nem de alguém me falando sobre Deus para que eu me conecte com ele.

Entretanto tenho muito respeito por todas as religiões...e não consigo achar que uma é melhor do que a outra. Apenas vejo que uma atende mais as necessidades de algumas pessoas do que a outra. Já fui a missas, cultos evangélicos de várias ordens, já fui a cultos hinduístas, Budistas, Bahais , Muçulmanos, Brahmanistas, Cultos em adoração a Shiva, A Vishnu, já fui a rituais de candomblé, umbanda, espíritas, rituais xamânicos, indígenas, judaicos.... nem sei quantos eu já conheci.

Em muitos fui tocada na alma e me emocionei muito...em outros tantos, nada aconteceu comigo...não consegui nenhum tipo de conexão com minha alma, embora o respeito tenha sido o mesmo... Não fui a tudo isso por que estava procurando uma religião, muito pelo contrário. Fui a tudo isso porque eu não quero uma religião. Eu cheguei muito tempo atrás a uma conclusão sobre minha prática religiosa.. Ela é íntima! Talvez a coisa mais íntima que tenha na vida! Não preciso e nem quero companhia nesse meu caminho...sinto que ele é um caminho absolutamente solitário...e isso me faz um bem enorme!

Preciso de muitas pessoas ao meu redor pra tudo. Adoro conversar, adoro falar da minha vida e saber da vida do outro. Adoro meus alunos...fico feliz quando a sala tá cheia. Adoro meus amigos. Adoro as comunidades que faço parte. Adoro trabalhar com gente, não conseguiria trabalhar com máquinas ou com números. Gosto de gente quase o tempo todo perto de mim. Mas minha espiritualidade é íntima, é pessoal e intransferível.

Todo o bem que consigo nas minhas meditações, ou nas minhas reflexões sobre a vida, sobre Deus...eu compartilho sem nenhuma economia..dou palestras..conto minhas meditações até aqui no blog mesmo..passo adiante com muita generosidade tudo que aprendo, não escondo nada, mas minha ligação com Deus é única..não tenho como explicar e nem tenho necessidade disso.

Muitas pessoas querem me convencer a ter uma religião...e eu digo que já tenho a minha, porque aprendi que religião é aquilo que me RELIGA a Deus...e nunca me sinto distante de Deus...então eu já tenho a minha religião! Uma vez perguntaram a Gandhi, quantas religiões ele reconhecia no mundo...e Gandhi que era um Hinduísta praticante respondeu que havia tantas religiões quantas pessoas houvessem...por que cada pessoa era a sua própria religião.

Minha religião chama-se "pratica da bondade e da generosidade...sem olhar a quem", nem sempre consigo ser uma boa praticante..tenho como meta também ter como religião o Satya e Ahimsa, que são a prática da Verdade e da Não-violência, mas também não sou das melhores...mas tô tentando...

Enquanto isso apenas vou vivendo cada dia o seu bem e o seu mal...

Namastê!

Ludmila
P.S. No memorial ao Mahatma Gandhi, em New Delhi, Índia!






sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mulheres unidas!!!!


Escrevi aqui algumas vezes sobre os meus amigos e amigas virtuais das duas comunidades de câncer que participo. Fiz um homenagem especial aos homens de uma dessas comunidades quando escrevi "Espaço dos Cuecas", esse é o nome de um fórum criado por eles. Hoje quero falar das mulheres, apenas delas!

Elas são mães, filhas, tias, sobrinhas, netas, amigas, amantes , esposa, ex-esposas, vizinhas de alguém. Elas lutam contra um câncer, ou ajudam alguém que está nessa luta, e tem aquelas que perderam alguém nessa luta. São muitas mulheres corajosas, determinadas, amorosas....mulheres que tem altos e baixos, e que como toda mulher têm que lidar além de tudo que já lidam por causa dessa doença maluca, algumas delas, infelizmente têm que lidar com TPM, menopausa, crises no casamento, ver filhos crescendo, ex-maridos aprontando...maridos indiferentes...distantes e assustados..., filhos pequenos, filhos adolescentes, trabalho...algumas descobriram o câncer na gravidez, ou amamentando!!!

Converso com algumas delas em tempo real....falamos de comida, de homens, de chocolates, de homens, de receitas novas, de homens, de vaidade, de homens., de novelas, de viagens, e da Índia...rsrsrsr....nos divertimos, mas falamos muito de coisas sérias também. Nos preocupamos com alguém que anda sumido, falamos amorosamente uma das outras, nos incentivamos...dizemos que somos lindas e poderosas e reforçamos nossa auto-estima.....fazemos o que toda amiga faz. Jogamos conversa fora, nos apoiamos, nos escutamos e não julgamos umas as outras...

Não sinto que somos coniventes ou lenientes com nossos defeitos e fraquezas, pois discordamos também, falamos o que não gostamos, tentamos acalmar uma que é mais esquentada...tentamos alertar outra sobre sua responsabilidade pessoal com sua vida...dizemos sempre coisas boas...mas nem sempre são agradáveis..ou fáceis...Tudo é delicado pra quem tá vivendo um momento assim, mas por outro lado, quem tá vivendo um momento assim, não quer perder muito tempo com bobagens....

Minhas amigas são lindas. Umas estão carecas, outras estão vendo seus cabelos crescerem, outras já os tem de volta. Umas estão vendo seus pais sofrerem, ou irmãos e maridos, mas outras passam pelo sofrimento absurdo e inimaginável para mim, de verem seus filhos lutarem contra um cancer, outras perderam seus filhos para o câncer!

Marcinha me disse que não é guerreira, mas que é corajosa. Que ela nunca quis essa guerra, mas já que teve que entrar, lutou com coragem...Ninguém quis essa guerra! Ninguém desejou pelo menos conscientemente passar por isso, mas vejo mulheres corajosas, com um coração enorme lutando ou acompanhado seus queridos.

Algumas estão em luto. Perderam alguém. Choramos junto. Elas rezam uma pela outra, eu mentalizo. Não sei rezar. Elas trocam mensagens de amor e orações, eu escrevo no blog, não tenho essas mensagens. Nos entendemos com nossas diferenças e com nossos momentos diferentes, mas somos unidas por algo em comum...o câncer.

Elas me dão uma nova dimensão do meu poder, elas me ajudam também a redimensionar meus problemas, minha dores, minha vida. São mulheres comuns, como outra qualquer, mas que experimentaram ou ainda experiementam o contato com o que essa doença provoca em nós. Não temos tempo a perder com lamentações, não temos tempo a perder com coisas que não tem importancia...Elas me ensinam e eu ensino algo pra elas. Nós trocamos e assim nos fortalecemos . Cuidamos das feridas e dos momentos tristes, mas nos alegramos com os momentos felizes, celebramos, parabenizamos uma a outra!

Sou muito grata por voces terem entrado na minha vida minhas amigas virtuais e de caminhada!

Patsy, Pati, Cris, Katy, Dani (s) , Gab, Ângela (s), Marcinha, Jaque, Myrloca, Mary, Regininha, Rejane, Cristine, Criss, Iolanda, Ione, Élida, Rai, Bertilha, Luana, Valérias (s), Mazé, Suu, Ceiça, Malu, Marcela, Cláudia, Fefa, Elaine, Gilca, Vera, Dayane, Caroline, Alexandra, Virginia, Marcela, Marli, Ana Cristina, Liliane, Ione, Simone, Márcia....ai...todas, todas, pois com certeza esquecerei algum nome....mas não de voces!

Beijos enormes

Ludmila

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Seja quente ou seja fria...


Na Bíblia existem muitas passagens que me tocam profundamente pelo seu aspecto simbólico. Estudei muito pouco a Bíblia, li quase nada do que eu acho que deveria. Li muito mais textos Védicos do que a Bíblia.

Hoje estava escrevendo pra esse blog quando recebi uma email de uma amigo muito amado que me lembrou de uma passagem que simplesmente adoro. Em algum momento da minha vida, essa passagem era a minha cara....eu a via como um lema!


é assim...


"Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito".


Quando conheci essa passagem, ela ganhou um significado que talvez fosse muito pessoal, mas que eu amei...Já escrevi aqui sobre o quanto a passividade e a acomodação não fazem parte da minha vida. Já escrevi também sobre o quanto pra mim é importante fazer a diferença, e que pra isso precisamos encarar os nossos medos, encarar que os nossos maiores inimigos estão dentro de nós mesmos.


Não consigo ser bege, não consigo ser morna...embora ache que existe um enorme conforto nisso. Acho que as pessoas mornas, pensam muito mais em si mesmas do que aquelas que não o são. Elas estão preocupadas com os riscos que correrão, com as consequencias dos seus atos, das suas palavras e dos seus afetos. Elas pensam muito e encontram um lugar de contenção para as emoções, e para os desejos. Elas dificilmente seguem algum tipo de impulso, precisam também freiar arroubos de paixão e desejos. Precisam deixar de ter opinião a respeito das coisas. Não podem destoar e jamais contrariar.


Elas são mornas; não são frias, e muito menos quentes; elas são mornas.


Acho que deve ser muito confortável estar ao lado de alguém morno, porque não existem surpresas, porque elas são esperadas e planejadas, exatamente pra não causarem instabilidades . Não existem muitas turbulências.... acho que a vida fica mais leve.... muitas vezes quis ser morna, ou bege...muitas vezes até tentei isso.... Porém as pessoas mornas também são perigosas, por que elas tentam controlar a temperatura do outro. Acho que elas pensam: Poxa, se eu me controlo e me freio tanto.....quem é voce pra se permitir sentir tanto! Os mornos são controladores de temperatura. Eles freiam as expressões de calor...eles querem tudo bege, não aguentam muita intensidade...


Fiquei um pouco receiosa de publicar aqui no blog o meu poema "Por tras de mim". Ele fala exatamente dessa dualidade, que é quente e fria. As pessoas tendem a pensar que isso é um desequilibrio, que deveriamos encontrar um lugar no meio disso. Que deveriamos com o passar do tempo ir ficando mais bege, mais morna. Não tenho conseguido.


Com o passar dos anos, tenho me conhecido mais e mais, mas não tenho conseguido ficar morna. É bem verdade que não tenho tentado muito. Não tenho me empenhado nisso. Tenho buscado todas as nuances possíveis da minha alma e tenho conseguido não ser pega se surpresa por mim mesma. Sei que minhas emoções não me destruirão, nem me farão perder a consciencia de mim mesma, por mais intensas que sejam, mas elas não me tiram de mim, mas daí a ficar morna....tá difícil... o que consegui foi ter cada vez menos medo de mim.


Quando decidi publicar o poema "Por trás de mim", pensei que talvez algumas pessoas pudessem pensar algo de mim que não correspondesse a realidade, mas em seguida pensei: O que poderiam pensar de mim que não corresponda a realidade?...provavelmente sou, ou seria qualquer coisa que pensassem, me sinto livre pra sentir o sentimento que vier....se vier o medo, vou lá dentro, se vier a raiva..sinto e por isso, posso não atuar nela; se vier o desejo me entrego; se vier a descrença, a esperança, a fé, a alegria...
....qualquer coisa que vier de mim, eu viverei....., pois prefiro errar do que me omitir, eu prefiro sofrer do que não viver, eu prefiro ser quente ou ser fria, mas jamais serei vomitada à terra, por ser morna.
Ludmila
P.s. na foto, gesticulando muito numa aula...sempre repleta de emoções....

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Exaustos, mas felizes....


Muitos anos atrás, os meninos eram pequenos ainda, em uma das idas a Lençois, na Chapada Diamantina aqui na Bahia, lugar inesquecível, (quem conhece certamente irá concordar comigo), estávamos numa pousada, que organizava trilhas e passeios para os hóspedes e as divulgavam em um mural, e lá estava escrito que no dia seguinte o passeio seria uma trilha longa pra uma daquelas cachoeiras inesquecíveis...e dizia, além de todas as recomendações..: "Voltaremos exaustos, mas felizes!"

Nunca esqueci dessa frase...e foi exatamente assim que voltamos de SP ontem, completamente exaustos, mas absolutamente felizes...

Chegamos em SP depois de uma viagem de madrugada, fomos para o Hcor, e às 08:30h, Judson entrou por uma porta, de onde só saiu às 12h, com uma expressão linda e leve no rosto, que já dizia tudo e que me fez desabar num choro de alívio. O que havia acontecido lá dentro eu não sabia, mas sabia pela carinha dele, que iria ouvir, o que desejei muito ouvir: não foi detectado nenhuma célula cancerosa pelo PetScan.

Quero contar que fiz e senti nessas 3 horas e meia que fiquei no hospital, sem notícias e sem ninguém fisicamente ao meu lado, até chegar a esse momento de alegria.

Achei que conseguiria passar o tempo vendo TV ou lendo algo, mas não foi possível...o relógio simplesmente não andava... estava no 2º sub-solo e por isso sem sinal do celular...resolvi andar um pouco pelo hopital, e fui até a lanchonete tomar um café e descobri que em frente a lanchonete tinha uma capela ecumênica, entrei... silencio....estava sozinha....sentei... e chorei....chorei muito. Era um choro muito profundo...

Vivi um momento de muita espiritualidade...de mergulho nas águas profundas do oceano da minha alma....quanto mais eu mergulhava, mais silencioso ficava. Algumas pessoas entraram e sairam da capela, mas eu estava ali, com o meu silencio interior, com o meu Deus. O meu Deus é um lugar, é um lugar dentro de mim, é um estado de alma. Mergulhei nesse lugar, encontrei esse estado e fiquei lá...ouvia meu choro, ouvia minha respiração...não conseguia pedir nada, não havia nada a ser pedido...só fiquei nesse lugar primitivo, em que somos por natureza sós...e absolutamente acompanhada e preenchida pelo meu Deus interno.
Experimentar essa solidão preenchida foi libertador. Não me sentia sozinha...mas era uma constatação irrefutavel de que sou só, porque existe um lugar na minha alma que só é possível ser acessado por mim mesma e, como eu não sentia pena de mim e pude me render a isso, podia sentir Deus, podia sentir as dores e alegria de todas as pessoas que ali estavam naquele momento...podia sentir algo absolutamente transcendental, algo que transcendia os meus medos e as minhas necessidades. Pude ver uma perfeição naquele instante. Entrei em estado meditativo...a vida e a existência eram muito maiores do que o meu mundo pessoal....a vida (assim que eu chamo Deus) era perfeita, e nada me faltava...fiquei quieta e em paz.

Depois de tantas experiencia internas, desci para o 2º sub-solo...e sabia que tinha que esperar o meu amor sair do exame, quando ouço meu nome ser chamado por uma voz feminina, olhei, não sabia quem era aquela mulher, ela me diz: "Sou Patsy, da comunidade" ... "soube que Judson vai sair daqui a 5 minutos".....demorei algum tempo para processar...havia sido encontrada por um anjo, uma pessoa linda da comunidade de "parentes de vítimas de câncer"...ela foi lá me ver, ela, assim como toda a comunidade, sabiam que eu estava ali...eles vibravam, rezavam, oravam por mim...sabia que isso estava contecendo...mas de repente, isso ganha um aspecto físico, ela estava ali...e nos abraçamos...e choramos...


Patsy presenciou aquele que foi um dos melhores momentos da minha vida...alguém que eu nunca havia visto, mas que sabe das minhas dores...foi lá...simplesmente apareceu pra me lembrar da imensa rede de proteção que nos envolve o tempo todo. Patsy era um símbolo, ela foi a presença simbólica de todos os meus alunos queridos, dos meu clientes, amigos, dos meus pais e irmãs, dos meus amigos das duas comunidades que faço parte...Patsy representou a realidade protetora que me envolve e que posso até não ver, mas que está ali...por isso posso até estar só, mas nunca estou sozinha!!!


Amo a vida...não sei o que é ser infeliz...sei o que é estar triste e com medo, mas não sei o que é ser infeliz...Estamos exaustos, mas muito, muito felizes!!!


Obrigada a todos que simplesmente nos amam e torcem por nós!

Namastê
Ludmila



P.S. na foto...na Toscana, nem um pouco exaustos e muito felizes.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Por trás de mim....


Viajo essa madrugada. Vamos pra São Paulo. Judson fará um Petscan, esse é um exame que escaneia todo o corpo a procura de células malignas. Foi esse mesmo exame que em janeiro detectou a metástase no fígado.
Muitos sentimentos....medo, ansiedade, que se alternam com tranquilidade, serenidade...

Nesse momento não há nada a ser feito...tudo que podíamos fazer...fizemos.
Fantasmas nos assombram e assombrarão, por muito tempo ainda...assim é essa doença.

Uma confiança serena, me invade, mas não é sufcientemente forte para espantar o medo....

Sou assim....essa contradição.


Lembrei de uma coisa que escrevi em 2004 e quero compartilhar.




Por trás de mim


Por trás da dureza que mostro tem algo muito delicado e sensível.
Por trás de toda certeza e convicção existem medos e inseguranças.
Por trás de todo esse tamanho existe uma miniatura.
Por trás de todo preenchimento tem um imenso vazio.
Por trás de tanta propriedade existe um nada.
Por trás de tanta fé, a mais total descrença.
Por trás da paz, um caos.
Por trás de tanta vitalidade, uma vontade enorme de sumir.
Por trás da coragem, a vontade de pedir ajuda.
Por trás da firmeza, vacilo.
Por trás da resiliência, uma vontade de desistir.
Por trás de todo o planejamento, uma grande desorganização.
Por trás de toda a minha lucidez, uma vontade de enlouquecer.
Por trás de tanta expansividade, muita retração.
Por trás de toda determinação, uma vontade de sucumbir.
Por trás da mulher segura existe uma menina assustada.
Por trás daquilo que conheço de mim, uma total desconhecida.
Por trás de mim, só existe a mim mesma.
Então essa sou eu inteira,
Frente e costas,
Sou inteira essas duas e muito mais.


02/10/2004



terça-feira, 12 de maio de 2009

Rindo...falando besteiras....lavando a alma.....


Todos sabem que faço parte de comunidades virtuais de pacientes e parentes de pacientes de câncer. Já falei disso outras vezes. São duas comunidades muito atuantes. Somos muito solidários e amigos. Na comunidade de parentes, fiz tantas amizades, que sinto que poderia estar com essas pessoas, dado ao nível de intimidade que conseguimos... Os temas são quase sempre muito sérios, mas também falamos sobre as boas notícias. Mas em geral os temas por motivos óbvios são sérios e dolorosos. Falamos dos nossos medos e dores, ansiedades e tratamentos...enfim, assuntos que essa doença maluca provoca.


Tudo corria normalmente na comunidade de pacientes de quimioterapia. Todos lá fazem quimio, ou já fizeram ou tem parentes fazendo (que é o meu caso), os assuntos normais eram discutidos, até que algo de novo aconteceu. Algo inesperado e sem grandes pretensões, uma proposta simples de um João que tecla lá da Itália, que criou e nos convidou a fazer parte um chat para conversarmos em tempo real. Uma idéia simples, muito simples...., mas eis que um fenômeno aconteceu e é sobre isso que quero falar hoje!


Todos devem ter assistido ao filme Patch Adams, a história de um médico que acredita que rir é um bom remédio, que falar coisas leves e engraçadas ajudaria no tratamento das pessoas. Patch Adams revolucionou o olhar sobre o paciente e sobre os hospitais. Ele simplesmente tratava dos pacientes, mas também os fazia rir!


Isso é o que está acontecendo nesse chat. Rimos, falamos muita , mas muita besteira mesmo....falamos sobre comida o tempo todo e sobre os homens.....rimos tanto que desligamos o computador mais leves. Hoje estavamos avaliando com um olhar internacional qual nacionalidade de homens que preferimos: árabes, japoneses, italianos......rsrsrsrsrsrsr.....negros, louros....tem sempre uma que quer um namorado...e grita: Eu quero!....sempre alguém falando algo muito engraçado e completamente desprovido de racionalidade e de objetivos...só besteirol!! besteirol da melhor qualidade! Homens e comidas são os assuntos preferidos!


Penso que precisamos aprender a rir de nós mesmos e sinto como isso nos faz bem... rir é um remédio importante, principalmente no universo de dor e angustia, de medos e ansiedades, de enjôos e tratamentos dolorosos.... Isso não é uma fuga. Isso é uma necessidade lúdica. Uma necessidade que vem das nossas crianças que ainda vivem dentro de nós. Criança que mantem a chama acesa da esperança e da alegria. Essa criança interna pode nos render e nem que seja por alguns instantes, ela pode nos lembrar que estamos vivos e que a vida vibra dentro de nós!


Obrigada minha amigas e amigos por todas as gargalhadas que voces tem me proporcionado.


Beijos


Ludmila
P.s. Foto leve e saltitante no Taj Mahal na Índia!

sábado, 9 de maio de 2009

Minha mãe

Amanhã é Dia das Mães.


Fiquei pensando que escrever sobre o quanto eu amo ser mãe seria algo tão comum....falo sobre isso o tempo inteiro. Todos que me conhecem sabem o quanto sou completamente apaixonada por meus filhos e o quanto que eu adorei ficar grávida, parir, amamentar, vê-los crescendo....adoro fazer coisas com eles, sair pra jantar, vê-los com as namoradas, viajar com eles.


Qdo fomos todos juntos pra Índia e Nepal, eu não sabia se eu olhava para os lugares ou se olhava para os meus filhos nos lugares... já interrompi palestras minhas por que os vi entrando..., quando eles moraram fora do Brasil por um ano, meus alunos me consolavam e riam de mim....sou realmente muito abestalhada e acho que eles são sobreviventes do meu amor escandaloso. Não amo de forma pegajosa, nem possessiva, mas é um amor exagerado, que faz alarde.....graças a Deus eles sairam da adolescencia, pois eu os fazia morrer de vergonha...eles sobreviveram....hoje, segundo eles mesmos, já se acostumaram...

Levei dois parágrafos falando deles pra dizer que não ía falar deles. Quero falar da minha mãe. Sempre falo do meu pai...falo muito dele, hoje falarei dela.


Minha mãe é de Manaus no Amazonas, filha de uma família enorme e muito pobre. Viviam em uma casa de madeira e dormiam em redes. Desde jovem, vemos pelas fotos, ela tinha uma beleza altiva, imponente, passava uma imagem de poder. Estudou Escola Normal como todas as moças da época. Frequentava Igreja. Ela conta histórias difíceis de infância, mas sempre conta rindo...apanhava muito, tinha que trabalhar em casa pois eram muitos filhos homens e só três mulheres...vida simples e difícil...

Minha mãe casou com o primo carnal dela (meu pai), casou por procuração, pois meu pai já morava no RJ nessa época e ela não poderia sair de casa sem estar casada. Ela não teve um casamento de verdade, mas vestiu seu vestido de noiva depois pra tirar as fotos do casamento com o marido..algum tempo depois quando foi encontrá-lo.

Ela fez então sua grande viagem..pro RJ e para mudar de vida completamente. Teve um filho lá e três aqui em Salvador. Não sei se ela queria tantos filhos. Ela trabalhava demais. Tinha três empregos. Sempre lembro da minha mãe trabalhando...trabalhando muito. Foi professora a vida toda. Professora de matemática.

Minha mãe era muito popular...toda vez que saiamos na rua, sempre muitas pessoas falavam com ela. Sempre falo sobre o quanto meu pai era popular, mas minha mãe era incrivelmente conhecida. Ela ensinava matemática em escolas de ricos e de pobres, então era comum estarmos na rua e o camelô reconhecê-la e chamá-la: professora!! Mas, muitos amigos meus foram alunos dela também. Então doutores e empregadas domésticas; médicos e camelôs; advogados e garçons foram alunos de minha mãe. Todos falavam do quanto ela era excelente professora, do quanto todos a adoravam. Minhas irmãs foram alunas dela, eu não.

Minha mãe era vaidosa, e tinha uma atitude sensual, sempre reclamando do giz que ressecava suas unhas(nessa época os quadros das escolas eram negros ou verdes e se escrevia de giz). Usava decotes enormes e era uma mulher moderna. Dirigia pra cima e baixo, apesar de trabalhar tanto, nos levava pra todos os lugares sempre que possível, não lembro de meu pai ajudando-a em nada de casa ou de filhos. Ela fez faculdade depois de ter três filhos, se formou com quatro..recém parida da última. Acho que ela foi uma guerreira.

Não tenho uma visão romântica da maternidade, acho que deixo faltas imensas nos meus filhos, acho que provavelmente os deixo em situações dificeis, e acho que toda mãe erra muito. Acho que as mães podem ser terríveis, e provavelmente são, e duvido muito de uma pessoa que diga que nunca sentiu muita raiva da sua mãe ou que não desejasse ter tido outra mulher como mãe.

Mães são contraditórias, são imperfeitas, são mulheres com suas próprias faltas. Minha mãe é assim, eu sou assim. Meus filhos podem fazer uma lista daquilo que não gostam em mim, com certeza podem, eu também, quando tinha a idade deles também faria uma lista dos defeitos da minha mãe. Hoje isso não importa mais. Não tenho culpas com relação às faltas que provoquei nos meus filhos e por isso mesmo não seria justo cobrar nada da minha mãe. Aliás, uma coisa implica na outra. Me resolvo como filha e me libero como mãe. Sem culpas, sem cobranças...


Minha mãe lê esse blog, é muito orgulhosa de mim, e lerá essa minha postagem, e quando ler vai se esforçar pra não chorar, pois ela nunca chora, pelo menos não na frente de outra pessoa. Eu sou uma chorona, chorei e choro por tudo que meus filhos fazem. Choro por qualquer coisa. Minha mãe controla o choro.


Talvez ela chore sozinha lendo isso que escrevi, mas nunca saberei.


Mãe, te amo.


Ludmila


P.s. Na foto, minha mãe entre as três filhas!

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Espaço dos cuecas *


Quero escrever sobre os homens. Já escrevi algumas vezes sobre as mulheres, sobre o quanto adoro ser mulher, sobre minhas irmãs lindas e poderosas, sobre minha mãe, sobre minhas alunas, clientes, sobre minhas companheiras das comunidades realacionada ao câncer...falei das mulheres como Deusas, mas hoje quero falar dos homens.


Tenho dois filhos homens, quando era jovem queria parir 6 homens. Meus filhos são muito especiais. Não sou uma mãe coruja (aquela que não vê os defeitos), eles os tem, mas acho que eles tem algumas qualidades raras, e uma delas é a delicadeza e gentileza que eles tratam as amigas e namoradas. Eles são gentis e cavalheiros. Gosto muito também da fidelidade deles aos amigos.


Meu pai, foi o primeiro homem da minha vida...já falei tanto dele aqui. Ele foi ficando velhinho e ficando preocupado com os filhos, cada vez mais preocupado. Nós cada vez mais independentes e ele cada vez mais atencioso. Tem meu sobrinho que foi o primeiro bebê da minha vida, tão lindo, hoje um homem e profissional sério. Adoro meus alunos e clientes. Acho muito lindo um homem contrariar uma força cultural e fazer terapia, chorar suas dores e buscar esse contato com o mundo interno. Não poderia de citar meu marido, meu companheiro e que já falei tantas vezes aqui.

Mas quero dedicar essa postagem aos poucos homens que frequentam as duas comunidades virtuais dedicadas a câncer que faço parte: Rodrigo, Gustavo, Gui, João, Ivan, José, Dan, Siro, João Vitor...e outros que talvez tenha esquecido. Eles são pacientes dessa doença maluca ou são parentes....mas são guerreiros como poucos que já conheci.


Lidar com uma doença dessa é uma porcaria. Não dá pra falar coisas bonitas dela. O tratamento é doloroso, os fantasmas são constantes...tanto homens, quanto mulheres precisam de muita coragem determinação, serenidade, paciencia...e muita fé e esperança. Como acompanho o meu marido de perto, sei o quanto é preciso acreditar e querer muito a vida pra suportar tudo que vem com o tratamento.

Mas quero falar daqueles que chamo os meninos da comunidade. É preciso ficar claro, que eles são minoria absoluta nesses ambientes, as mulheres ocupam todos os espaços, mas eles estão ali, vão aos poucos falando, se expondo, na maioria das vezes brincam, mas também tem seus dias de fossa. Sou completamente apaixonada por eles, porque além deles atravessarem essa doença, eles também conseguem um lugar num espaço em que as mulheres dominam. Por conta disso, um fenomeno aconteceu, todas nós nos apaixonamos por eles, achamos graça das coisas que eles falam, ficamos encantadas e excitadas com a forma masculina de lidar com os problemas...e rimos, brincamos....falamos bobagens...algo muito lindo acontece desse encontro.


Meus queridos, existe uma crença no mundo feminino que voces homens não aguentam dor, as mulheres brincam dizendo que a humanidade seria extinta se dependesse dos homens parirem seus filhos, brincamos sobre o quão dengosos voces ficam por causa de uma gripe.... e nem sei o que pensar agora disso. Quando me deparo com a luta de voces, na maioria jovens, muito jovens, enfrentando essa doença louca, quando vejo que voces batalham e buscam sair dessa batalha de uma forma tão linda e como vencedores...fico muito emocionada.


Também tenho a tendencia a achar que as mulheres são mais fortes, que aguentam mais as dores e sofrimentos, mas isso é uma grande bobagem, acho que a grande diferença é que nós alardeamos o nosso sofrimento, falamos mais sobre ele, precisamos falar, falar e voces talvez não. Ainda por cima, nós temos a possibilidade socialmente aceita de sermos frágeis, de poder chorar, de cair e levantar, e isso faz com pareçamos mais fortes do que realmente somos; de voces é esperado uma luta sem quedas, uma coragem de macho, uma dureza sofrível...cruel isso, não?


Quero hoje dizer pra voces meus amigos e companheiros de comunidade que tenho muito carinho e admiração por voces. A forma como voces encaram suas lutas toca bem fundo no meu coração. Fico imaginando suas mães, irmães, namoradas, esposas e me identifico tanto com elas, pois eu vivo isso agora, e quero acolher voces, fazer companhia, ser amiga, ser irmã, ser mãe, ser companheira... algumas sentimentos lindos brotam do meu coração, e voces HOMENS, são responsáveis por isso!


Sou muito grata aos homens que entraram de várias formas na minha vida, tenho muita admiração e respeito por voces. Sinto que muitas experiencias lindas que vivi na vida, foram por causa de voces.... quero fazer essa homenagem aos homens e dizer do meu grande amor e gratidão por essa energia masculina com a qual já briguei tanto na minha vida, no meu processo de individuação, mas que hoje posso cada vez mais me render, admirar, amar, respeitar, reconhecer.

Meus queridos, muito obrigada e tentem resistir à nossa energia borbulhante e repleta de contradições, e permaneçam conosco!


Ludmila
P.S. na foto, meu pai e os 3 netos representando esses homens guerreiros e meninos que conheci.

* nome de um fórum criado pelos homens, dentro de uma comunidade de quimio, onde imperava a força e a palavra feminina!!!!!

terça-feira, 5 de maio de 2009

Chove chuva....chove sem parar....




Quem nos disse que temos que correr da chuva?


O que a chuva me traz? O que ela leva de mim?


veio a água.... muita água...energia da alma... dos sentimentos, que assim como a água, podem congelar, endurecendo...podem evaporar mas continuam a existir...podem fever...esquentar, esfriar...podem fluir... Nesse momento a água cai com força e leva com força aquilo que estiver no seu caminho.... tem um rio de chuva me envolvendo agora...

Que venha a chuva....quero ficar quietinha...a chuva me leva pra dentro, num lugar quentinho dentro de mim.


Que venha a chuva e que venha purificando, lavando, levando....levando tudo que não me serve mais e que a terra que é uma mãe amorosa, receba isso e transforme tudo em amor, coragem, sabedoria...


Que venha a chuva e que me deixe mais leve...que leve todos os medos, todas as dúvidas, dores..


Que venha a chuva e traga o que ela quiser me dar.


Que venham as gotas delicadas e as fortes também, as enchurradas.

Que atravessem o meu corpo, a minha áura, a minha casa... e que meu coração aberto não resista, apenas se entregue.


A chuva é uma mãe amorosa ou uma mãe severa?


O som da chuva me aninha ...a som da chuva me acolhe e me encolhe também... sinto medo, parece um medo de criança....mas descubro que não há nada há ser feito... fico menor com a chuva, encolhida, acolhida e aninhada não tenho defesas ...devo ficar quietinha...escutar o meu coração...sentir a água caindo...lavando...lavando....


Não há nada a ser feito...não existe a possibilidade de resistir ao poder da chuva...da água...podemos apenas respirar e esperar, esperar pra saber o que ela levou e, como ficou o que ela não levou.



Chove chuva...chove sem parar....

Ludmila






segunda-feira, 4 de maio de 2009

Não quero nada pela metade!


Recebi um email que falava sobre o como nos acostumamos a receber tudo pela metade. Falava sobre o fato de que vamos nos acostumando a receber cada vez menos e achar que está bom. A medida que eu lia, meu primeiro movimento era de concordar com tudo que ali estava sendo dito. Já falei aqui outras vezes sobre o quanto eu desejo na vida. Já falei em outros posts sobre a minha falta de pruridos em assumir que quero sempre muito, ou que quero muito aquilo que quero, assumo também que sei que as coisas não contecem exatamente como eu quero, então sei que devo me preparar para as frustrações também.


As coisas nem sempre acontecem como eu quero, sei disso. O fato de meu marido estar travando uma batalha contra o câncer nos anos que poderiam ser, os melhores anos das nossas vidas, prova isso. Não temos poder sobre tudo, não temos poder sobre a maioria das coisas. Então quando falo sobre os meus desejos, não falo com uma visão onipotente, que tem todas as garantias, falo de um lugar de quem sabe que muitas coisas não estão sob a determinação da minha vontade, que existe algo muito maior, uma "vontade" muito maior que podemos não entender, mas teremos que nos render.


Assumir o que quero e que não quero pela metade, me leva a um lugar onde tenho que me implicar nos meus desejos na medida que els são importantes pra mim. Se não quero algo pela metade, também não posso estar pela metade, tenho que me implicar inteiramente. Tenho que me expor, tenho que me instrumentalizar, tenho que saber como chegar lá, tenho que descobrir caminhos e formas de alcançar aquilo que desejo e mais ainda, talvez a parte mais importante: não posso ter medo denão conseguir o que desejo e, muito menos de conseguir o que desejo.


Parece uma contradição. Como pode alguém desejar uma coisa e ter de medo de alcançá-la? Isso infelizmente é muito mais comum do que podemos imaginar. Muitas pessoas andam nas suas vidas como se estivessem com um pé no acelerador e a mão no frio de mão! Com medo, freiando...sem saber se querem mesmo que aconteça...com medo de ser feliz, de gozar as delicias de conseguir algo que batalhou muito! Outras temem tanto a frustração que se dão pela metade, como se isso garantisse uma frustração pelo meio também....pessoas que se contentam com metade das coisas, um parceiro mais ou menos bom, um trabalho mais ou menos bom, uma vida mais ou menos boa...um amor pela metade, sonhos pela metade...Ainda dizem que não tem o queriam , mas se contentam com o que a vida deu!


Contentamento e desejos parecem conflitantes, mas pra mim não são. Já escrevi sobre isso aqui também. Posso ser uma pessoa que tem contentamento ( e sou), mas que tem muitos desejos e metas, que tem muitos sonhos e aspirações.


Bom...acredito que somos feridos nesse caminho de busca pelo que desejo...acredito até que alguns pedaços são arrancados, mas acredito que não existe outra forma melhor de estar na vida, que não seja a de estar inteira, e isso significa: Consciente de mim! querendo os meus desejos realizados e me implicando inteiramente na realização dos mesmos....se eles não acontecem, posso chorar minhas dores até que elas acabem...chorar plenamente...e continuar....


Namastê!


Ludmila

P.S. Foto - sendo coroada por uma Deusa! rsrsrsrsr (Museu D'Orsay- Paris)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Celebração das Deusas


Acho que já devo ter dito aqui, algo sobre o quanto eu adoro meu trabalho e todas as possibilidades que tenho de realizar mil coisas com ele. Já fui empregada da empresa privada e não aguentei, já fui funcionária pública concursada e também tive que sair senão ía morrer. Como psicoterapeuta e professora de yoga posso fazer tantas coisas diferentes....tenho tantos interesses e descubro sempre que posso produzir coisas com esses interesses se eu usar além do meu conhecimento, minha criatividade. Por isso, não posso ter um emprego, tenho que ser "dona" de mim mesma e ter a liberdade que vem daí.

Ontem encerrei mais um grupo que chamo de "Círculo das Deusas". É um trabalho com um grupo de mulheres, que procuram através da compreensão dos Arquétipos das Deusas Gregas e de como elas estão presentes nas nossas vidas (ou não) nos apropriarmos mais dos nossos poderes femininos.

Voces não tem idéia de como eu amo esse trabalho! Eu realmente amo muito esses encontros! Eu normalmente nem me preparo (tecnicamente) para eles. Eu sinto que apenas preciso abrir meu coração para as mulheres que lá estão e deixar que cada uma delas revele seus poderes. Sinto que a única coisa que faço nesse trabalho é autorizar cada uma delas a ser cada vez mais quem elas são em essência, e liberar seus desejos, saberes e poderes.

Passamos dois meses descobrindo a nossa porção Afrodite e como a nossa sexualidade teve que ser freiada e envolvida em culpas e sentimentos de inadequação; fazendo as pazes com a nossa Hera que não tem pruridos com relação ao poder; encontrando a nossa Ártemis e descobrindo o nosso amor pela natureza e pela liberdade; reconhecendo a Athena que mora em nós e que nascida da cabeça do pai luta contra as injustiças e ama o seu trabalho; acolhendo nossa Demeter que é mãe amorosa e que pode ser mãe de nós mesmas, e finalmente, descobrindo que podemos mergulhar fundo nas nossas dores como Perséfone e resgatar a nossa integração nos recônditos mais profundos da nossa alma.

Ontem encerramos essa jornada de resgate, reverenciando a nós mesmas.... brindando às Marilyns, às Fridas, às Anas Carolinas, às Priscilas, às Elianas, às Dôras, às Julianas, às Ângelas, às Ludmilas e a todas as Marias, brindamos aos batons, esmaltes, strasses, brilhos, livros; celebramos as delicadezas das fábulas, à coragem das guerreiras, ao prazer das cortezãs....rimos regadas a um bom vinho, uvas e claro, que não podia faltar, com chocolates.
Brindamos por cada orgasmo que teremos, por cada amiga que ainda faremos, pelos livros que publicaremos, pelos beijos que daremos, pelos homens que ainda abrirão portas de carro e trocarão nossos pneus e que nos amarão... e terão coragem de dar suporte aos nossos desejos e embarcarem neles... brindamos pelos filhos, pelas mães, irmãs e amigas que temos...brindamos por todas as mulheres das nossas vidas conhecidas ou não, mas que nos compõem....e nos ajudam a ser tudo que podemos ser.

Obrigada minhas lindas amigas, alunas, clientes...obrigada mulheres que me proporcionam uma experiencia como essa, que me dá uma noção muito linda de mim mesma. Acho que já disse que gosto muito de ser mulher, que gosto muito de mim mesma e da minha vida, mas quero mais uma vez agradecer, dizer o quanto sou grata por voces me darem esse prazer de rirmos e chorarmos juntas, de abrirmos a nossa alma uma para a outra e descobrir que podemos confiar. Confiar em nós mesmas, nos nossos desejos, intuições e sentimentos.



Namastê!


Ludmila
P.S. Escultura que mais amei no Museu D'Orsay em Paris