sábado, 9 de maio de 2009

Minha mãe

Amanhã é Dia das Mães.


Fiquei pensando que escrever sobre o quanto eu amo ser mãe seria algo tão comum....falo sobre isso o tempo inteiro. Todos que me conhecem sabem o quanto sou completamente apaixonada por meus filhos e o quanto que eu adorei ficar grávida, parir, amamentar, vê-los crescendo....adoro fazer coisas com eles, sair pra jantar, vê-los com as namoradas, viajar com eles.


Qdo fomos todos juntos pra Índia e Nepal, eu não sabia se eu olhava para os lugares ou se olhava para os meus filhos nos lugares... já interrompi palestras minhas por que os vi entrando..., quando eles moraram fora do Brasil por um ano, meus alunos me consolavam e riam de mim....sou realmente muito abestalhada e acho que eles são sobreviventes do meu amor escandaloso. Não amo de forma pegajosa, nem possessiva, mas é um amor exagerado, que faz alarde.....graças a Deus eles sairam da adolescencia, pois eu os fazia morrer de vergonha...eles sobreviveram....hoje, segundo eles mesmos, já se acostumaram...

Levei dois parágrafos falando deles pra dizer que não ía falar deles. Quero falar da minha mãe. Sempre falo do meu pai...falo muito dele, hoje falarei dela.


Minha mãe é de Manaus no Amazonas, filha de uma família enorme e muito pobre. Viviam em uma casa de madeira e dormiam em redes. Desde jovem, vemos pelas fotos, ela tinha uma beleza altiva, imponente, passava uma imagem de poder. Estudou Escola Normal como todas as moças da época. Frequentava Igreja. Ela conta histórias difíceis de infância, mas sempre conta rindo...apanhava muito, tinha que trabalhar em casa pois eram muitos filhos homens e só três mulheres...vida simples e difícil...

Minha mãe casou com o primo carnal dela (meu pai), casou por procuração, pois meu pai já morava no RJ nessa época e ela não poderia sair de casa sem estar casada. Ela não teve um casamento de verdade, mas vestiu seu vestido de noiva depois pra tirar as fotos do casamento com o marido..algum tempo depois quando foi encontrá-lo.

Ela fez então sua grande viagem..pro RJ e para mudar de vida completamente. Teve um filho lá e três aqui em Salvador. Não sei se ela queria tantos filhos. Ela trabalhava demais. Tinha três empregos. Sempre lembro da minha mãe trabalhando...trabalhando muito. Foi professora a vida toda. Professora de matemática.

Minha mãe era muito popular...toda vez que saiamos na rua, sempre muitas pessoas falavam com ela. Sempre falo sobre o quanto meu pai era popular, mas minha mãe era incrivelmente conhecida. Ela ensinava matemática em escolas de ricos e de pobres, então era comum estarmos na rua e o camelô reconhecê-la e chamá-la: professora!! Mas, muitos amigos meus foram alunos dela também. Então doutores e empregadas domésticas; médicos e camelôs; advogados e garçons foram alunos de minha mãe. Todos falavam do quanto ela era excelente professora, do quanto todos a adoravam. Minhas irmãs foram alunas dela, eu não.

Minha mãe era vaidosa, e tinha uma atitude sensual, sempre reclamando do giz que ressecava suas unhas(nessa época os quadros das escolas eram negros ou verdes e se escrevia de giz). Usava decotes enormes e era uma mulher moderna. Dirigia pra cima e baixo, apesar de trabalhar tanto, nos levava pra todos os lugares sempre que possível, não lembro de meu pai ajudando-a em nada de casa ou de filhos. Ela fez faculdade depois de ter três filhos, se formou com quatro..recém parida da última. Acho que ela foi uma guerreira.

Não tenho uma visão romântica da maternidade, acho que deixo faltas imensas nos meus filhos, acho que provavelmente os deixo em situações dificeis, e acho que toda mãe erra muito. Acho que as mães podem ser terríveis, e provavelmente são, e duvido muito de uma pessoa que diga que nunca sentiu muita raiva da sua mãe ou que não desejasse ter tido outra mulher como mãe.

Mães são contraditórias, são imperfeitas, são mulheres com suas próprias faltas. Minha mãe é assim, eu sou assim. Meus filhos podem fazer uma lista daquilo que não gostam em mim, com certeza podem, eu também, quando tinha a idade deles também faria uma lista dos defeitos da minha mãe. Hoje isso não importa mais. Não tenho culpas com relação às faltas que provoquei nos meus filhos e por isso mesmo não seria justo cobrar nada da minha mãe. Aliás, uma coisa implica na outra. Me resolvo como filha e me libero como mãe. Sem culpas, sem cobranças...


Minha mãe lê esse blog, é muito orgulhosa de mim, e lerá essa minha postagem, e quando ler vai se esforçar pra não chorar, pois ela nunca chora, pelo menos não na frente de outra pessoa. Eu sou uma chorona, chorei e choro por tudo que meus filhos fazem. Choro por qualquer coisa. Minha mãe controla o choro.


Talvez ela chore sozinha lendo isso que escrevi, mas nunca saberei.


Mãe, te amo.


Ludmila


P.s. Na foto, minha mãe entre as três filhas!

3 comentários:

  1. Qual é o nome de sua mãe... Tim Tim pra nós mães de amor exagerado! Eu tb exagero quase sempre. Tenho uma amiga que diz assim: Ah! eles que se virem para tirar os excessos de amor... Felizes dias pra vc Ludmilla!

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  2. Minha mãe chama-se Jacira.
    E concordo com sua amiga...que façam terapia depois e se livrem desses excessos amorosos...

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  3. Estamos passando momentos difíceis em família, não só pela doença do Marcelo,estamos fazendo "terapia de família",eu,minha irmã, meu cunhado e meus pais(poupei Marcelo dessa..rs)...ontem minha mãe disse que nunca bateu na gente,nunca quis brigar feio conosco porque ela acha que a criação deve se basear no exemplo...passando o que ela É para nós era mais importante que tudo...e é verdade, me vejo no espelho e parte de mim É minha mãe.
    A impossibilidade de eu ter tido filhos, junto com essa presença forte de minha mãe me deixaram muito emocionada no dia das mães, que por acaso tb foi dia do aniversário de meu pai, almoçamos na casa de minha avó paterna(único de meus avós vivo ainda)....ela com seus quase 95 anos soube que seria bisavó...já viu né?rs...muita água derramada por todos...beijo, obrigada pelas suas linds palavras SEMPRE.Bjo!

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