segunda-feira, 26 de abril de 2010

Já tô chegando....


Estou no período que antecede minha primeira viagem ao Brasil desde que vim morar aqui em Houston, nos EUA. Estou excitada. Experimento um misto de apreensão e excitação. É inevitável refletir sobre o "estar aqui". É impossível não avaliar a minha vida aqui, quando estou prestes de ir ao Brasil.

Gosto da minha vida em Houston. Gosto de estar com minha família. Nunca tivemos tanta chance de estarmos juntos como aqui. Gosto de conhecer coisas novas, lugares novos...a cidade é linda, organizada, moramos em um lugar muito legal e temos acesso a coisas muito legais. Fazemos pequenas viagens e já fomos a lugares bem interessantes.

Quando estou dirigindo aqui em Houston, penso que não suportarei viver a falta de educação do trânsito da Bahia, que não suportarei viver a desorganização das coisas lá e da ineficiência dos serviços e de tudo mais, entretanto não é bem assim...amo a minha casa...o Brasil é minha casa...a Bahia é minha casa.

Aqui no Texas existem alguns grupos, e por incrível que pareça, não pertenço a nenhum deles. A população do Texas é composta pelos brancos (que são os americanos de pele clara), os afro-americans (pretos que nasceram aqui), latinos (pessoas que falam espanhol) e asiáticos, árabes, indianos, muçulmanos... 


Enquanto estou calada, parece que pertenço ao grupo dos brancos...mas, quando falo alguma coisa, descubro que não sou de grupo algum...sou alguma coisa que eles não sabem exatamente o que é, nem eu! Acho que gosto disso...combina com minha natureza libertária, meio rebelde...meio transgressora...

Sou latina, eu sei. Mas ser latino para eles significa falar espanhol. Os latinos vivem aqui falando espanhol, eles não precisam falar inglês (são 30% da população). Quando falo, sabem que o que falo não  é espanhol, mas não sabem o que é. Perguntam se falo francês...perguntam de onde eu sou...me divirto.

Bom..essa questão até agora não é um problema para mim. Não tenho questões importantes acerca de pertencimento, ou algo parecido. Estar aqui e não pertencer totalmente a esse lugar não me causa desconforto, não abala minha auto-estima, muito menos me coloca em um lugar de inferioridade, mesmo porque não tenho essas questões em mim, muito pelo contrário, me sinto sempre com direito de estar onde eu estiver.

Tenho experimentado uma sensação muito boa de segurança e de centramento que só pude experimentar por estar fora da minha zona de conforto. Tenho experimentado na prática algo que achava ter conquistado e que de fato acho que conquistei. Uma sensação de ter um lugar dentro de mim que é perene, que é meu, estável, constante. Uma sensação de que posso estar em qualquer lugar, que irei fazer amigos e que irei encontrar uma forma de ser útil e de servir...e acreditem, ser útil é vital para mim.

Tenho uma sensação boa de que posso, mesmo aqui nos EUA ou em qualquer outro lugar, mesmo não pertencendo a esse lugar, fazer coisas legais para alguém. Penso assim porque sempre acho que o que tenho dentro de mim tem muito valor e serventia, e que sempre existirá alguém em algum momento que vai precisar do que eu tenho, e que eu estarei aberta para dar.

Entretanto, apesar dessa sensação, fico muito feliz de pensar que vou ao Brasil. Não vou passear, vou trabalhar. Vou rever os amigos que amo e vou estar no Espaço Mahatma Gandhi (www.mahatmagandhi.com.br), que é certamente o lugar que mais gosto de estar no planeta, além da minha casa. 

Estar no "Mahatma" pra mim, é estar num lugar muito especial...Penso nos clientes, nos amigos, nos alunos...as vezes chego a pensar que não preciso realmente de nada no Brasil que não esteja ligado ao Mahatma. 

Vou dar aulas de yoga (morro de saudades), vou atender no consultório, vou fazer workshops para Mulheres, vou TRABALHAR!!! 

Bom...preciso confessar que nessa viagem me permitirei muitos prazeres sensoriais e da alma. Quero comer acarajé da Cyra, moqueca de camarão com vatapá do Yemanjá, quero tomar uma cerveja com minha amiga Ana Teresa, quero ouvir muitas histórias de Juliana, quero abraçar minhas irmãs, quero contorcer meu gato, quero ver meu cachorro pulando nas minhas pernas, quero gritar por Marinalva e tomar seu cafezinho, quero que Ane Rose me dê ordens,  quero ver o mar....quero ver essa bagunça que me encanta e que me pertence também.

ai que saudade tenho da Bahia...
Toda menina baiana tem um jeito que Deus dá...

Já tô chegando....
Afemaria!


Ludmila Rohr
P.S. minha agenda em Salvador já está disponível na secretaria do Mahatma (71) 3248-7533



domingo, 18 de abril de 2010

MOMENTOS ORGÁSTICOS!!!



Quando sobrevoei o Himalaya pela primeira vez ( fui mais duas vezes depois dessa), pensei: Posso morrer agora! Não que eu quisesse morrer (nunca quis), mas era uma sensação tão grande de plenitude e paz, que entendi que é assim que a morte deve ser! Paz, libertação..plenitude...

Isso é que chamo de momento orgástico, pois o orgasmo não deixa de ser uma pequena morte, os franceses chamam de " La Petit Mort", é um estado de entrega, de libertação, que produz um prazer que é mais do que corporal, é na alma!

Já tive muitos momentos orgásticos na minha vida....Muitos deles absolutamente inesquecíveis ...mais inesquecíveis do que qualquer orgasmo que o sexo tenha me proporcionado, por mais deliciosamente prazerosos que eles tenham sido!

Nesses momentos orgásticos, todo o meu corpo é envolvido por minha emoção, eu estou absolutamente mergulhada na experiência, e é como se nada mais existisse na vida, além daquilo que estou vivendo ali. Não existe passado nem futuro, por mais próximos que eles estejam, só o presente...só o exato instante...só a minha respiração daquele segundo...só a intensidade maravilhosa de estar inteiramente consciente de si mesma e naquele exato instante...

Imagino a minha morte assim, talvez por isso não tenho medo dela. 


Fico muito feliz por muitas experiências orgásticas que eu tenho me proporcionado em vida! Descubro que quanto mais intensa e inteira aprendo estar na minha vida,  menos medo tenho dela e por consequência menos medo da morte também, e posso viver mais e mais intensamente sem medo de viver ou de morrer.

A semana que passou, fui a um show de Elton John. Adoro tanto ele, que acredito (rss) que ele compôs "Your Song" para mim! Entretanto, nunca imaginei que um dia eu fosse a um show dele. Acho que meu desejo era tão grande quanto a noção da impossibilidade em realizá-lo. Não me lembro de pensar que um dia isso fosse acontecer, mas aconteceu.

Eu sobrevoei o Himalaya e eu fui a um show de Elton John. Eu chorei em ambos, eu me emocionei e fiquei quieta, em mim...fiquei consciencte de mim...imersa nas minhas emoções...para mim, não existia ninguém naquele show além dele, e eu. Nesses momentos, o tempo para...o tempo nem existe....tudo ganha uma outra intensidade e dimensão.

Já vivi alguns momentos orgásticos em lugares lindos no mundo...Na Índia, Nepal, França, Itália, Alemanha...Já vivi momentos assim em muitas experiências espirituais, em inciações e em cerimônias que me tomaram completamente ...vivi isso no parto dos meus filhos...na doença do meu marido tive momentos de vivenciar no corpo e na alma um amor tão grande que transcendia tudo...Lembro de assistir muitas vezes o Pôr-do-Sol e sentir isso...Felicidade, Paz, Plenitude!

Sou Feliz! 
Sou Feliz!  Me permito a sensação de nada me faltar. 
Sou Feliz!  Me permito a sensação de estar inteira!
Sou Feliz! A vida e a morte são como orgasmos!
Sou Feliz...Elton John cantou "Your Song" para mim naquela noite!


Ludmila Rohr





quinta-feira, 8 de abril de 2010

Meus pais aqui... e, Eu inteira.

Tenho mantido uma regularidade de postagens no meu blog. Não que eu me sinta com essa obrigação, afinal tudo isso começou como um grande diário em que eu desabafava as dores de viver a descoberta da metástase de fígado de Judson. Estávamos em São Paulo para encarar uma cirurgia delicada quando descobri que podia ter esse instrumento tão comum na minha pré-adolescência, um diário!

Naquela época, janeiro de 2009, escrevia quase todos os dias...sentia que estava compartilhando minha dor com muitos amigos...refletia sobre a vida. sobre a morte..sobre ser ou não realista, pessimista, otimista...refletia sobre a função da fé e sobre o que a fé significava para mim.

Sempre que releio esse período do meu blog, fico encantada com o poder do tempo!
Nos últimos mêses tenho escrito quase sempre nas segundas-feiras...sinto vontade...sinto saudade de conversar com os amigos...Esse blog tem sido uma delícia na minha vida...gosto de conversar e escrevo como se conversasse com amigos.

Essa segunda não foi possível escrever, meus pais estão aqui nos visitando e estávamos chegando de uma viagem a New Orleans..
Não sei ao certo se foi a falta de tempo que me afastou do blog...começo a desconfiar que a presença dos meus pais aqui esta me mobilizando muito e não tenho tido tempo para refletir sobre isso...
Não tenho grandes apegos em relação a eles. Minha criação me conduziu para um lugar de muita independência. Certo ou errado, construí a minha própria família, e é ela que é minha referência.

Meus pais são presenças fortes de muitas coisas que gosto e de que não gosto, que quero e que não quero pra mim....tenho amor e gratidão, mas sei que minhas pernas, minha coragem e determinação pessoal me sustentam há muito tempo...e que minha vida sempre foi uma tentativa de estar cada vez mais no presente e não no passado. 

Muitos anos de terapia também me ajudaram a me reconhecer como individuo e não como filha deles. Sem negar o passado, mas sem dívidas com ele, posso viver nesse momento como uma pessoa adulta e independente, que precisa de amigos, mas do que de pais..e que fica feliz em vê-los em alguns momentos como amigos.

Meus filhos começam a passar por essa transformação também...precisam cada vez menos de mim da forma antiga...é assim mesmo. Tem que ser assim, e precisamos estar atentos para essas mudanças.

Bom...meus pais estão pela primeira vez na vida na "minha" casa, pois é a primeira vez que os recebo...sempre moramos na mesma cidade. Gosto de saber que aqui é minha casa e que eles estão na minha casa...ainda não sei explicar bem isso, mas passa perto de uma sensação de que posso continuar aqui sem "ser filha" deles....aqui é minha casa..é o meu ritmo. É a minha vida que os recebe...isso é bom...não sei ainda porque, mas é bom, continuo sendo Eu e não a filha deles.

Isso é bastante complexo...levarei algum tempo para fechar essa gestalt em mim, mas sei que é algo bom. É como uma confirmação de todo o caminho que trilhei no sentido da minha individuação. Gosto disso. Me reconheço...essa sou eu.

Ludmila Rohr