segunda-feira, 27 de agosto de 2012

BELEZA, MEDITAÇÃO E PRAZER


Já contei dois posts atrás que estou fazendo aulas de Hanji. 
Essa é uma linda arte coreana com papéis. 
Contei que estou apaixonada, mas não contei o quanto estou apaixonada e que dessa paixão já nasceu meu primeiro filho. Vocês o conhecerão agora!  

O primeiro passo foi escolher o projeto. Defini cheia de ansiedade que queria fazer um pequeno móvel com gavetinhas para guardar coisinhas pequenas, tipo anéis, colares..etc...

Cheia de paixão por esse projeto me comprometi com aulas no estúdio da professora. Essas aulas, são quase que privadas e posso passar o dia inteiro no estúdio trabalhando com a supervisão dela.  Assim aconteceu. Dois dias inteiros de 10 as 19h .., colando, retocando, pincelando..respirando...



O incrível para mim foi perceber passo a passo as coisas acontecendo... de um amontoado de papelão, uma forma começando a surgir. 

Cada momento foi vivido com concentração e prazer. Me pegava feliz ... uma felicidade ingênua e despretenciosa. Respirando e com vontade de rir.

De vez em quando suspirava profundo e ria .... assim, ... do nada.




A carinha do filho começa a aparecer... o projeto começa a se estruturar... apaixonada e rindo começo a ver as folhas de papel ganharem a forma que planejei... 

A minha alegria, mesclada com muita excitação me toma por completo... 

Começo a ver que estou rendida a esse prazer.







Detalhes feitos com cuidado.

Passo a passo que deve ser respeitado.

Não dá para acelerar o tempo ... muito pelo contrário, preciso estar inteira a cada instante, sob pena de fazer algo errado. Erros que acontecem, e que sempre vem acompanhados de um  suspiro grande ... mas nada que não possa consertar.






A primeira gavetinha.... cortando...colando....
Muitas e muitas piceladas de cola....
Dentro e fora feitas com carinho. Cada cantinho bem cortado, bem colado.


A face dela... 
Digam se não é pra se apaixonar mesmo?

Digam se é possível fazer algo assim sem estar concentrada, encantada e apaixonada? 








Minhas quadrigêmeas!

Lindas...idênticas...

4 gavetinhas mágicas!


  

Forrada dentro e fora...

Cada canto, cada quina..

Cada detalhe feito enquanto respiro...

Meditações, reflexões acontecem o tempo todo. 

Acho que estou encontrando dentro de mim uma Deusa diferente ... uma qualidade quase que maternal que confere paciência para cuidar dos detalhes sem pressa. Sem querer apressar nada... só curtindo cada momento. Bem diferente da deusa Athena de quem sou muito íntima. 

Só rindo... sorrindo... colando...



Apresento-vos meu primeiro projeto concluído de Hanji.

Esse é fruto de mais de 17h de trabalho, meditação e respiração. 

O mais encantador foi trazê-lo para casa. Como moro em hotel, fui chegando e apresentando-o para as meninas lindas que trabalham no desk. Eu dizia: I made It!!! Elas encantadas exclamavam: "you made It???? 

Ele ainda está em cima da mesa da sala. Não consegui coloca-lo num lugar funcional...ele ainda não é apenas um móvel de guardar bijouterias, ele ainda é uma arte, um filho especial.

Hoje a senhora que arruma meu apartamento o viu em cima da mesa, ela o tocou , olhando e admirando... deixei que ela o olhasse antes de dizer que eu o havia feito... nem sei por que, mas acho que queria ver o espanto dela... e vi. Ela sorria e falava misturando coreano com inglês... acho que tentou dizer com um sorriso alegre: "Parabéns!!! Ele é lindo!!!" .

Estou de parabéns ... essa qualidade feminina que traz beleza e delicadeza está viva em mim!
Estou feliz. 




segunda-feira, 20 de agosto de 2012

VENDENDO SONHOS!



Hoje soube de uma tradição linda da infância aqui da Coréia e tenho que contar para vocês.
Me contaram que as crianças vendem os sonhos ...  e que os adultos os compram.

Vou explicar.
Algo bem simples... coisa de criança, mas eu me apaixonei por essa história.

Quando uma criança tem um sonho bom e conta para os pais, tios ou mesmo avós, eles pagam algum dinheiro, coisa pouca, o dinheiro na verdade não tem a menor importância. A tradição apenas manda que eles paguem pelo sonho. 

Ao compra-lo, o adulto carrega aquela sorte, aquela energia. É como se a criança tivesse trazido de algum nível superior uma energia de boa sorte! Quando algo de bom acontece à pessoa que o comprou, eles acreditam que a energia do sonho foi responsável. 

A mesma coisa acontece com os sonhos maus. 
Uma criança que acorda assustada por conta de um pesadelo e o conta para seus pais, ou adultos próximos, esses adultos costumam comprar esses maus sonhos. Com isso, eles pretendem livrar a criança daquele medo, daquela sensação com que ela acordou. Pagam em dinheiro pelo pesadelo... a criança feliz guarda seu dinheiro e livra-se daquele mau sonho.

Minhas colegas coreanas me contaram isso. Todas tinham alguma história de infância com seus sonhos. Todas lembravam de uma situação em que venderam seus bons ou maus sonhos.  Elas ficaram encantadas e surpresas pelo meu encantamento. Não imaginavam que isso seria uma novidade para mim. Elas tentavam me explicar que o dinheiro não tinha importância, temiam que eu pensasse o contrário. Entendi perfeitamente que isso não era importante. 



Acho que entendi a magia da coisa. 
Acho que entendi o encanto dessa tradição. 

Sonhava muito quando era criança. Tinha muitos pesadelos também. Tive sonhos tão marcantes na minha infância, que lembro de muitos deles até hoje com detalhes. 

Também lembro de várias vezes acordar chorando por conta de algum pesadelo. Passava algum tempo tentado imaginar o que era aquilo e por que sonhava aquelas coisas....

Sonhos bons e sonhos maus. 
Adoraria te-los trocado por magia.


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

RESPIRO, ... E SOU LIVRE


Comecei aulas de Hanji aqui na Coréia. Pra quem não sabe o que é isso (provavelmente a maioria), Hanji é uma arte que usa papeis e é tradicional aqui na Coréia. As pessoas constroem de simples bandejas, até móveis e gaveteiros, usando papel e cola. Os papéis são lindos e coloridos. É uma arte apaixonante. Essas aulas são gratuitas e oferecidas pelo governo coreano para estrangeiros que aqui moram. Eles oferecem aulas de coreano, culinária típica e outras coisas também. Entrei nessas aulas aceitando o convite de Cristina Oshiro, uma brasileira/japonesa que conheci aqui, depois de muita insistência dela. Confesso que fui para a primeira aula, com uma sensação total de incompetência e sem muita convicção de que seria possível vence-la. 

Bom...quando eu era criança fiz aulas de pintura. Pintei muitos quadros. Adorava isso. Quando parei de pintar, nunca mais fiz nada artístico ou artesanal na minha vida. Nem sei porque, mas provavelmente por falta de tempo e por ter um foco muito voltado para o trabalho. Não tinha tempo para isso ou não tive chance...ou mesmo vontade. Na verdade nada nunca me atraiu. 

Aqui na Coréia tenho tempo. O Hanji apareceu diante de mim e me colocou diante dessa minha dificuldade de fazer arte, de fazer algo com as mãos. Resolvi aceitar esse desafio e me abrir para a beleza e a delicadeza dessa arte. 

Descobri logo de cara (com os erros que me fizeram rasgar os papéis) que preciso ser muito mais delicada e ter movimentos muito mais leves. É necessário fazer conexão com uma energia muito feminina para conseguir trabalhar como Hanji. Mãos leves, movimentos pacientes e muita concentração. Adorei. 

Tenho estado muito meditativa nesses tempos. Tenho estado cada vez mais quieta e reflexiva; num lugar dentro de mim de silencio e quietude em que posso observar meus pensamentos, e refletir conscientemente sobre questões relativas a projetos, e ao sentido da minha vida. O Hanji apareceu como mais uma ferramenta que me leva a concentração e que abre uma porta de meditação. Ficar pincelando suavemente cola sobre o papel, numa ação silenciosa e repetitiva, imediatamente me coloca nesse estado. Percebo que minha respiração desacelera a tal ponto que de vez em quando dou um suspiro grande, como se deixara de respirar por um tempo. Percebo minhas ansiedades e percebo o quanto elas são inúteis. Percebo meus medos e reflito o quanto eles são desnecessários. Percebo a respiração e me dou conta de que tudo é uma grande respiração. 


Respiro o sorriso acolhedor da minha professora que sem comunicação verbal alguma, entende que estou enfrentando a mim mesma para estar ali.

Não serei uma artesã. Estar na aula de Hanji para mim é como uma meditação, por isso respiro e me deixo levar!

Respiro e percebo meus medos. 
Respiro e percebo minhas ansiedades. 
Respiro e me liberto delas. 
Respiro e sou arte. 
Respiro e sou beleza. 
Respiro e sou livre.