terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dia 5 - O CHOQUE DOS CONTRASTES



hotel
Bangalore é uma cidade imensa, é a maior cidade do estado de Karnataka no sul do país. Tem uma população de quase 8,500 milhões de pessoas, sendo a terceira cidade mais populosa do país. É considerada um centro de alta-tecnologia e telecomunicações do planeta, está entre as 10 cidades mais empreendedoras do mundo. 

Estou, como já havia dito antes, "pegando carona" em uma viagem do marido, que veio a trabalho. O hotel que a companhia o colocou fica em Whitefield, região onde a maioria das empresas de tecnologia estão localizadas. Estamos em um  hotel excelente, com requintes e atendimentos de alto nível. 

Dois dias atrás, tivemos aqui no hotel, um desfile de modelos. Fiquei sabendo que era uma eliminatória de um programa de caça-modelos, tipo "Top Model", mas que chama-se Mega Model Hunt, e é muito famoso aqui na Índia. Ficamos e conseguimos assistir até a apresentação dos concorrentes. Moças e rapazes que querem ser modelos ou atores de Bollywood. A quase maioria deles, tinha curso superior, alguns engenheiros, dentistas, analistas de sistema, contadores, etc. 


Ver aqueles "modelos" desfilando com vestidos curtíssmos, saltos altissímos, pareceu para mim, uma busca desesperada pelo padrão estético ocidental. Embora ache as indianas que aparecem na TV e nos filmes, lindíssimas, aquele desfile parecia uma show de horrores. Como se algo estivesse completamente fora do lugar. As moças buscando um andar de modelo, mas eram um desastre. Elas eram feias, e eles pareciam atores de cinema de quinta categoria. Nem sei por que fiquei tão chocada com aquilo, por que acho as indianas tão lindas em seus saris e brilhos. Nesse desfile, elas pareciam que fingiam não serem indianas. Pois é, o sari confere um toque de nobreza mesmo as mulheres pobres que pedem esmolas nas ruas. 

Uma amiga do facebook questinou o meu comentário, achando que minha crítica era por conta dos pneus e gordurinhas que elas exibiam. Tudo bem, se elas querem ser como as modelos magérrimas que desfilam moda, não deviam mostrar pneus e celulites. Mas, esse não era o motivo maior do meu choque. Aquilo foi um show de horrores, por que na minha avaliação elas estavam fingindo algo que não são. Os modelos estavam abrindo mão daquilo que eles tem de mais bonito para parecerem conosco. Acho que meu choque, foi resultado de uma desilusão. Nada ali, lembrava a Índia que encontrei nas minhas outras 3 viagens. 


Viajar pela Índia é se deparar com os imensos contrastes desse país. Contrastes que chocam e machucam. A miséria está presente em todo lugar, é possível ver pessoas mendigando em qualquer parte da cidade. É possível ver  algo que se compara as nossas favelas ao lado de prédios altos.  É possível ver pedintes, na calçadas dos Shopping Centers que vendem marcas internacionais caras. Assim como é possível ver pequenos templos hinduístas em meio a tudo isso. 

O jornal de hoje traz uma matéria de capa sobre a fome que atinge crianças de Bangalore, em meio a muitas notícias de negócios e política. Não sei se existe aqui, algo que se compare ao SUS do Brasil, não sei se eles tem algum tipo de previdência social, ou algo que seja voltado ao cuidado com essas pessoas que vivem em estado de miséria.

Além da contradição entre a miséria e a riqueza, outra coisa tem me chamado atenção: Os esquemas de segurança do hotel que estou hospedada, e de outros prédios. Pra entrar no meu hotel, vc tem que passar por detectores de metal, seus pertences passam pelo Raio X, o carro é vistoriado por funcionários e por um cachorro que o fareja. Se saiu para dar uma volta, quando volto passo por todo esse esquema de segurança, que não nos deixa esquecer que os atentados terroristas acontecem aqui também. Isso não faz parte da Índia do nosso imaginário, mas é verdade.


Esse país que teve o Mahatma Gandhi como líder, que tem uma história milenar, país onde nasceu Buda, Krishna, Sai Baba, Amma e tantos mestres que o ocidente conhece, País que é o berço do Yoga, é um país que busca a modernização, e isso é caro para a cultura. O mundo globalizado esmaga tudo aquilo que não é pasteurizado e homogeneizado.

A Índia é um dos grandes países que  emergem no cenário econômico mundial, assim como a China e o Brasil. É um país de contrastes, com uma população gigantesca que vive na linha abaixo da pobreza, e que produz ricos a cada segundo. Torço para que a alma não se perca. 



2 comentários:

  1. Ludmila, conhecendo este lado da Índia (desci parando em várias cidades grandes e pequenas até Goa), concordo com tudo que vc. escreveu e como conhece os dois lados, o tradicional e o moderno, fez realmente uma análise real. Como vc. aprendi a amar este país. Quando cheguei em Mumbai, o aeroporto à noite já me assutou, pela manhã olhei pela janela do hotel e me perguntei: Que diabos estou fazendo aqui? passei 1 mes viajando de buzu indiano, convivendo com aquela gente e conhecendo várias facetas da Índia e hoje meu maior desejo é voltar a Índia, não sei que mistério tem este lugar...Amei seu texto e conpreendo perfeitamente. Um bj. Nubs

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  2. Também torço. Esse país já nos deu tanto em termos de espiritualidade!... Que não arranque as suas raízes!...
    ANA LIÉSE

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