quarta-feira, 25 de novembro de 2015

SOFIA VIAJOU PARA O NEPAL, E O MUNDO GANHOU COM ISSO


Sofia é uma linda pre-adolescente que faz parte da minha vida desde que mudei para a Korea. Ela e sua família, moravam no mesmo hotel que a gente, fomos vizinhos por dois anos lá. Vi Sofia vencer desafios impressionantes. Ela saiu do Brasil, foi estudar em uma escola americana na Ásia aos 8 anos. Isso a colocou diante de situações-problemas que a fizeram lutar e chorar muitas vezes, mas que fizeram dela uma vencedora. 

Agora Sofia mora aqui na Arábia, mas não no mesmo compound que eu, não nos vemos todos os dias como nos víamos na Korea, mas a acompanho de pertinho, e sempre que a reencontro me supreendo como ela está crescendo! Sofia definitivamente entrou no meu coração pra nunca mais sair. Quero estar na sua formatura, e em datas importantes para ela, quero acompanhar seus momentos de dor e de alegria. 

A escola americana que ela estuda na Arábia, tem um programa de viagens com atividades, e esse ano ela entrou esse programa, foi sua primeira viagem, foi a primeira vez que ela viajou sem os pais, e para um lugar tão longe e desconhecido. Sua turma da escola embarcou com uma missão de ajudar um orfanato em Kathmandu. Eles recolheram muitas coisas para doar, inclusive computadores, brinquedos e roupas. 

Quem me conhece, sabe que eu já estive três vezes em Kathmandu,  e amo o Nepal, sofri muito com o terremoto que destruiu muitos lugares que amo tanto. Sabia que Sofia não encontraria um lugar lindinho e de fácil acesso. Sabia que essa viagem seria impactante para qualquer pessoa, ainda mais para uma menina ocidental.

Claro que não foi uma viagem fácil e simples. Muitas pessoas podem até achar que Sofia merecia ir a um lugar melhor, que ter escolhido ir pra Kathmandu foi um erro, ou que ela é muito nova pra ver essas coisas. Eu discordo. Acho sim que ela vai precisar de alguns anos para entender tudo que ela viveu, ela vai elaborar essa experiência aos poucos, mas acredito piamente que devemos mostrar o mundo de verdade aos nossos filhos. Criá-los em condomínios fechados protegidos de qualquer coisa que seja um pouco diferente da sua realidade, é uma forma de alienação.

Podemos criar nossos filhos alienados, despreparados, sem força para lidar com as dificuldades, com a dor, e que paralisam diante da falta; presos em uma bolha de proteção, que facilmente se rompe quando se depara com a realidade, mas podemos escolher criar nossos filhos conscientes de que o mundo não é cor-de-rosa, que a vida não vai acha-lo especial como nós pais os achamos, que ele é mais um nesse mundo que precisa de pessoas menos egoístas e mais solidárias, mundo que precisa de pessoas que não olhem apenas para os seus problemas pessoais e possam olhar mais para o outro. 

Ensinar isso aos nossos filhos, é fortalecê-los para lidar com o mundo. Acho que Sofia vai levar algum tempo para entender o quanto essa viagem vai fazer a diferença na vida dela enquanto adulta, mas ela vai entender, e ela só tem a ganhar com isso. Certamente essa experiencia fará com que ela seja um adulto mais consciente e forte. 

Sofia ganha com isso. O mundo ganha com isso.

Te amo, minha Sofi.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

ELE PODERIA SER MEU FILHO




meus filhos com adolescentes nepaleses, em uma praça em Kathmandu

Uma das coisas que mais amo é ouvir histórias, não é a toa que sou psicóloga. Amo realmente ouvir pessoas falarem de suas vidas, das suas dores e alegrias. 

Morar fora do Brasil, e em lugares tão diferentes do mundo, me colocou em contato com pessoas e histórias que jamais esquecerei, e por serem tão lindas, acho que merecem ficar registradas. Quem sabe alguém, em algum lugar, em algum tempo distante, possa lê-las e se emocionar assim como eu me emocionei.

Aqui na Arábia Saudita não podemos dirigir, então a compania que meu marido trabalha, coloca a disposição carros com motoristas para nos atender. Esses motoristas são na sua imensa maioria, indianos e uns poucos nepaleses. Nas poucas vezes que saio sozinha com eles, aproveito para ouvir suas histórias. Pergunto sobre suas famílias, pais e mães, esposas, filhos...como fazem pra mandar dinheiro para eles e como é difícil viver num país em que eles são absolutamente  invisíveis. Eles sofrem. Sofrem preconceito, saudade e solidão. Vida muito dura, por isso sempre damos boas gorjetas e sempre que posso, ofereço uma conversa que lhes mostrem o apreço e respeito que tenho por eles.

Hoje quero contar a história de Milan, um nepalês de 25 anos, hinduísta, educadíssimo e com toda aquela energia que o Nepal exala, e que me mata de saudade (claro que contei pra ele que existe uma cantora chamada Shakira, que é famosa do lado de lá do planeta e que tem um filho chamado Milan, ele não acreditou!). Ele na verdade nasceu na Índia em Darjeeling, em um campo militar. Ele tem duas nacionalidades. (claro que contei pra ele que Hollywood fez um filme lindo que se passa em Darjeeling e que tem esse nome!!! Ele não acreditou!!).

Ele é pai de um lindo menino de 5 mêses chamado Awee, e como todo pai orgulhoso, me mostrou várias fotos de um lindo bebzinho com aquelas bochechas rosadas e olhos puxados que nos encantam no Nepal. Sua esposa é linda também, e ele está há 3 meses longe deles e de coração partido. Não consigo imaginar a dor deles. Semana passada meu motorista era um indiano que acabara de ganhar trigêmeos, e estava contando os dias para voltar pra Índia em férias para conhecer os filhos.

Mostrei fotos da minha família de férias no Nepal, e lhe contei que meu filho caçula tem a mesma idade dele. Ele não acreditou que eu conhecia e amava o seu país, e que tinha muito orgulho de ter ido lá três vêzes, e que em uma delas eu havia levado os meus filhos, na época adolescentes. 

Levar meus filhos ao Nepal e a Índia, foi um dos maiores presentes que imaginei poder dar a eles em vida, e talvez realmente tenha sido o maior de todos. Torço muito que um dia eles percebam isso.

Antes de sair do carro, mostrei a minha tatuagem do Lord Ganesha. Ele exclamou: Ganesha! Lord Ganesha! 

Milan podia ser meu filho. Eu chorei, ele prendeu o choro.

domingo, 1 de novembro de 2015

MERGULHO






O meu mergulho é pra cima, é pra dentro, e é bem fundo.
Vou até onde minha alma me permitir, vou até onde eu existir, vou.
Quando volto, volto nua, volto plena, volto leve, volto sem nada que me prenda.
Assim é o meu mergulho.